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Opinião

André Ventura: entre o gajo de Alfama e o televangelista manhoso

Ventura parece o gajo de Alfama em fast forward, um taberneiro em esteróides que atira cá para fora todas as trips que lhe passam pela cabeça. E daí nasce aquele fenómeno estranhíssimo: ele enfia um número grotesco de sílabas em cada segundo; é uma metralha de perdigotos verbais que se espalha em spray; debater com o cavalheiro implica ter óculos de mergulho

Ver um debate com Ventura é uma experiência que se faz mesmo só por dever. O cavalheiro tem um tom de voz irritante, muito adolescente, como se ainda não tivesse a voz no sítio; e tem sobretudo um ritmo de monólogo (nunca é diálogo) alucinado, parece que está numa trip provocada por pequenas doses de substâncias ilícitas ou por grandes doses de substâncias lícitas. Se tivesse de debater com o cavalheiro, eu exigiria que ele soprasse no balão antes.

Aquela voz perfura os nossos ouvidos com a estridência e a nossa inteligência com a mentira. Não sabe usar a língua portuguesa a não ser para mentir. Mas porque é que a sua maneira de falar é tão repulsiva?

Vem de onde?

Há várias hipóteses.

Primeira: só sabe falar em ritmo tik-tok; Ventura só sabe falar em segmentos acelerados de 30 segundos; se vai falar dois minutos, lança quatro jactos, quatro expulsões, quatro vómitos, que são incoerentes entre si, que partem de mentiras ou falácias ou de exageros teatrais. Parece a sua famosa coelhinha saltando de tema em tema sem qualquer inteligência, há apenas reflexos animais. Por falar nisso, há qualquer coisa de cadelinha de Pavlov no comportamento de Ventura.

Segunda: é o vox populi da taberna. Há dias estava a ouvir um debate e a pensar, De onde é que eu conheço esta voz? Era de um velho sketch do Gato Fedorento, o gajo de Alfama. Ventura parece o gajo de Alfama em fast forward, o taberneiro em esteróides que atira cá para fora todas as trips que lhe passam pela cabeça alucinada. E daí nasce aquele fenómeno estranhíssimo: ele enfia um número grotesco de sílabas em cada segundo; é uma metralha de perdigotos verbais que se espalha em spray; debater com o cavalheiro implica ter óculos de mergulho.

Terceira: Ventura fala muito mal dos brasileiros, mas só se deixa enganar quem quer. O voto de naturalizados brasileiros vai muito para o Chega e para o ADN. É um voto muito mais reacionário em média do que o nosso. É um dos ângulos cegos da esquerda no tema da imigração: estão a entrar pessoas que são a negação dos nossos valores liberais e progressistas, o que é reforçado com o tabu que é a aculturação. Um evangélico brasileiro e um muçulmano naturalizados portugueses não vão votar no Livre ou na IL ou na AD, ou no PS; votarão no Chega ou em pior, aliás, já o fazem. É por isso que Ventura fala como se fosse um pastor da igreja Maná. O cavalheiro diz-se muito católico, mas fala como um televangelista manhoso.

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