A questão da manteiga: uma crónica sobre “O Último Tango em Paris”, um filme sobre abuso e sujeição
“O Último Tango em Paris” devia ser um filme romântico. Não percebia por que à sua menção se geravam tantos risos masculinos
Escritora, vencedora do Prémio Urbano Tavares Rodrigues
“O Último Tango em Paris” devia ser um filme romântico. Não percebia por que à sua menção se geravam tantos risos masculinos
Onde é que eu estava no 25 de Abril? Em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques, provavelmente na escola ou a ler deitada na cama. O 25 de Abril só se torna visível para mim na fase em que de repente os homens começam a ir ver, sozinhos, filmes impróprios. A minha chegada à adolescência não corresponde apenas a uma natural mudança psicofisiológica, mas a uma mudança de ambiente fora de mim, nos costumes, nos hábitos e na linguagem. Apareciam filmes como “Garganta Funda”, cujas referências me eram totalmente desconhecidas. Garganta funda seria metáfora para uma gruta que se descobria no fundo de uma montanha? “O Último Tango em Paris” devia ser um filme romântico. Gostaria de ver. Não percebia por que à sua menção se geravam tantos risos masculinos, ficando as mulheres a murmurar porcarias, porcarias. Nesta altura ainda não me tinha tornado retornada. Era alguma coisa, mas ainda não era nada.
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