Há que ter orgulho nesta nossa maneira de ser, porque a grandeza de um país não se mede apenas nos gráficos do PIB e o diabo a sete
Num passado já remoto, fiquei amigo de muitos americanos e americanas, todos oficiais das forças armadas; vivíamos em casernas isoladas da realidade, na verdade, casernas que flutuavam por cima do mundo como uma ilha utópica presa só por uma guita aos Alpes germânicos; nestes ambientes, a intimidade brota quase à força para se evitar a claustrofobia. A minha empatia com os americanos surgiu de forma natural. A cultura americana é mais fraca do que a europeia. Havia, porém, uma enorme diferença: eles viviam de forma mecânica, geriam o dia como um capataz gere turnos numa fábrica, até as refeições. Não sabiam comer. Não sabiam comer no sentido da nutrição e no sentido social — não compreendiam os laços sociais que se estabelecem numa refeição feita e gozada com tempo. Durante aqueles meses, eu, um oficial grego de cavalaria, um piloto francês de Mirages e um atípico alemão, piloto de Tornados, educámos os americanos à mesa: “Tem calma, man, molha aqui o pão neste molho sem pressa!” Os americanos acham que um restaurante ou café é só parte do mercado e não da sociedade, não percebem que se pode ficar num café europeu horas a fio consumindo apenas uma bica. O café e a rua têm um valor social e comunitário que precede o mercado e a troca de bens e serviços.
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