Não desvalorizando a centralidade de atos eleitorais livres na consolidação e manutenção do nosso sistema democrático, não podemos deixar de questionar a bondade de umas eleições legislativas, a realizar passado pouco mais de um ano das últimas
Com eleições autárquicas agendadas para outubro deste ano, andava o país, a reboque dos principais partidos políticos e da comunicação social, entretido com candidatos e candidatos a candidatos à presidência da república. Por algum motivo, quiçá a pouca relevância que a nossa sociedade parece atribuir ao Presidente em exercício, a eleição do Presidente da República, ainda que prevista para só daqui a mais de um ano, suscitava mais interesse e mediatismo do que a eleição de mais de 300 presidentes de câmara, mais de 300 assembleias municipais e mais de 3000 assembleias de freguesia. Entretanto, senão pelo ainda maior interesse que acarretam, talvez pelo drama envolvente ou pela sua urgência, o foco desviou-se para umas eleições legislativas, extemporâneas, decididas ainda antes do governo completar um ano de governação. Depois de o Orçamento do Estado ter sido aprovado e de duas moções de censura terem sido reprovadas, os portugueses não contavam ser chamados a eleger nova Assembleia da República durante 2025. Se a responsabilidade é do governo por ter insistido na votação de uma moção de confiança, se do Partido Socialista por ter insistido em não definir a priori o prazo de uma comissão parlamentar de inquérito, trata-se de uma discussão que, mais uma vez, não só ignora praticamente um terço do hemiciclo como se de deputados redundantes se tratassem, como, chegados a este ponto, só se afigura relevante enquanto instrumento já de campanha eleitoral, enquadrado numa qualquer estratégia política de responsabilização, assente ora numa pretensa superioridade moral ora numa postura de vitimização.
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