Temos uma colher de sopa de plástico no cérebro. Trump exige beber cola por uma palhinha que não expluda. Os fósseis desta era serão plásticos e ossos de galinha
Uma das primeiras decisões que Donald Trump tomou foi exigir o regresso das palhinhas de plástico em toda a administração federal. As de papel não funcionam. Explodem. O alegado viciado em diet coke puxou dos galões de especialista e as palhinhas de plástico voltaram em força. O que é uma estupidez. Por muitos motivos. Há o equivalente a “uma colher de sopa de plástico” no cérebro de um adulto ― aproximadamente mais 50% do que há 8 anos ― e não vai ser preciso esperar duas décadas para que este valor duplique. Todo o nosso corpo tem micro e nanoplásticos: fígado, pulmões, bílis, as cartilagens dos joelhos, o coração ou o cólon. Foi encontrado em leite materno, em placenta e em mecónio (primeiras fezes de um recém-nascido). Mas também está no topo do Evereste e no mais profundo dos oceanos, dado que estes são usados como lixeira principal desde que se inventaram os polímeros. E sim, respiramos plástico de cada vez que inalamos. Ou ingerimo-lo cada vez que comemos. Um bife? A vaca é contaminada em vida e o processo continua em cada etapa até que a carne chegue ao prato. A ideia de deixar as palhinhas de plástico tinha sido uma das poucas vitórias alcançadas na apocalíptica questão da crise climática global. Podíamos, aliás, dispensar completamente o sugar líquidos por um tubinho. Mas pronto, ficávamos pelos de cartão, uma concessão em prol do ambiente. Uma foto de 2015, tirada nas águas da Costa Rica, em que se via uma tartaruga com uma palhinha de plástico cravada nas narinas, tinha sido o momento de viragem na sensibilização da opinião pública. Desde essa altura, tinha-se alcançado algum progresso. Mas Trump não gosta de beber Coca-Cola com palhinhas de papel. E os americanos consomem 500 milhões de palhinhas por dia. É verdade que deixar as palhinhas de plástico nem resolvia grande coisa dada a imensidão do problema que é o ‘plástico’. Era simbólico. Mas era um sinal. Era.
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