Num confronto dramático que ressoou muito para além de Washington, o explosivo embate no Salão Oval a 28 de fevereiro de 2025, entre o Presidente Trump e o Presidente ucraniano Zelenskyy, representa uma abordagem mais ampla da política externa dos EUA — uma abordagem que muitos no Médio Oriente há muito encaram com profundo cepticismo. O confronto, que tinha como objetivo cimentar um acordo sobre minerais que ligaria a riqueza de recursos da Ucrânia à continuidade da ajuda norte-americana, acabou por se degenerar num espetáculo público, marcado por exigências paternalistas e ultimatos verbais de Trump.
Enquanto os EUA pressionavam a Ucrânia para demonstrar gratidão e comprometer-se em relação às suas prioridades de segurança, críticos no Médio Oriente viram isso como uma confirmação da arrogância global dos EUA, sacrificando os interesses e a dignidade dos estados menores para seu benefício próprio.
Durante décadas, países como o Irão e os seus aliados regionais sustentaram que a ostentação americana advém de parcerias genuínas. O Afeganistão sob Ashraf Ghani, o Iraque sob Saddam Hussein, a Líbia sob Gaddafi, o Egito sob o General Morsi e mesmo o Irão sob Rouhani negociaram com os EUA, apenas para verem Washington demonstrar a sua inconstância.
Em vez de adotar uma abordagem equilibrada para responder às necessidades de segurança da Ucrânia perante a agressão russa, a administração Trump focou-se na obtenção de concessões económicas — nomeadamente, um acordo que teria transferido 50% das receitas dos recursos naturais da Ucrânia para um fundo controlado pelos EUA — expondo uma abordagem que trata os aliados como meros trunfos de negociação. Esta estratégia ecoa as capitulações impostas pelos impérios britânico e francês sobre os impérios Otomano e Persa para extrair petróleo e outras matérias-primas.
Naturalmente, esta não foi a primeira das políticas coercivas e abrasivas de Donald Trump no seu segundo mandato. O Rei Abdullah da Jordânia também foi tratado de forma pouco diplomática durante as negociações sobre o acolhimento de pessoas de Gaza. Líderes do Médio Oriente, incluindo aqueles que dependem de parcerias internacionais robustas para enfrentar desafios complexos de segurança regional, podem tirar uma lição sóbria disto: negociar com uma potência hegemónica muitas vezes significa aceitar um papel subordinado, onde lealdade e gratidão são exigidas em troca de garantias de segurança mínimas.
Durante o primeiro mandato de Trump, o Primeiro-Ministro japonês Shinzo Abe tentou transmitir uma mensagem de Trump ao Irão — gesto que o Líder Supremo iraniano, Ali Khamenei, rejeitou categoricamente, declarando que um líder norte-americano do calibre de Trump não merecia qualquer forma de comunicação com o Irão. Na época, a recusa de Khamenei foi amplamente criticada dentro de certos segmentos do governo e da sociedade iranianos, com opositores argumentando que a sua ideologia antiamericana era um entrave à resolução de questões pendentes com os EUA. No entanto, à luz dos recentes confrontos humilhantes de Trump com a Ucrânia e a Jordânia, esses mesmos críticos inverteram radicalmente a sua posição. Hoje, muitas vozes no Irão e nos seus círculos regionais elogiam Khamenei pela sua firme recusa dos avanços americanos, vendo a sua decisão como uma defesa robusta contra o que consideram ser a "arrogância global" dos EUA.
Este incidente também sublinha os riscos inerentes para alianças com dinâmicas de poder desequilibradas. No aceso debate do Salão Oval, a lacónica observação do Vice-Presidente JD Vance — "Alguma vez disseste 'obrigado'?" — não foi apenas uma crítica casual; simbolizou uma expectativa mais ampla de que parceiros menores devem publicamente afirmar a sua dívida de gratidão para com os EUA, independentemente das suas próprias prioridades estratégicas. Para os estados do Médio Oriente, especialmente Israel — uma nação que há muito equilibra uma parceria de segurança singular com Washington — este episódio serve de advertência. Quando um aliado poderoso impõe a sua agenda e exige sinais visíveis de subserviência, a autonomia estratégica do parceiro menor é inevitavelmente comprometida.
Além disso, as repercussões deste encontro já começaram a remodelar os cálculos diplomáticos internacionais. Aliados europeus, alarmados com a aparente disposição de Washington para se envolver em jogos de poder de alto risco à custa de um parceiro-chave, expressaram preocupação de que tal comportamento poderia desestabilizar estruturas de segurança coletivas.
Por fim, este episódio levanta questões mais amplas sobre a natureza da geopolítica moderna e o equilíbrio entre interesse nacional e solidariedade entre aliados. A humilhação sofrida por Zelenskyy não deve ser encarada como um precedente a seguir, mas sim como um incentivo para exigir um envolvimento mais equilibrado e recíproco — um que reconheça o valor intrínseco e a soberania de todos os parceiros, independentemente da sua dimensão.
Mohammad Eslami, Professor Auxiliar de Relações Internacionais na Universidade do Minho e Investigador Visitante da Dublin City University
Ibrahim Al-Marashi, Professor Associado de História do Oriente Médio na California State University, San Marcos, EUA
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