O futuro da aviação sustentável
Portugal está a posicionar-se no movimento global que perspetiva a descarbonização do setor aeronáutico até 2050
Professor da Escola de Engenharia da Universidade do Minho
Portugal está a posicionar-se no movimento global que perspetiva a descarbonização do setor aeronáutico até 2050
A recente decisão de a Airbus adiar o desenvolvimento de aeronaves movidas a hidrogénio para o ano 2040 ou até 2045 marca um ponto de reflexão crucial para a indústria da aviação. Este adiamento, acompanhado por um corte de 25% no orçamento do programa ZEROe, levanta questões sobre a viabilidade e os desafios tecnológicos associados ao hidrogénio como combustível do futuro.
Produzido a partir de fontes renováveis, o hidrogénio apresenta-se como uma solução promissora para a descarbonização da aviação. No entanto, a criação da infraestrutura necessária para a sua produção, armazenamento e distribuição, bem como o desenvolvimento de novas aeronaves, são desafios significativos que as empresas do setor enfrentam. A complexidade deste ecossistema requer uma colaboração global e investimentos substanciais, algo que a Airbus reconhece como elementos limitadores.
Paralelamente, esta multinacional está a intensificar esforços no desenvolvimento e teste de motores que utilizam combustíveis de aviação sustentáveis (SAF). Estes combustíveis, produzidos a partir de fontes renováveis como óleos vegetais e resíduos, podem reduzir as emissões de CO₂ até 90% em comparação com os combustíveis convencionais. Além disso, são compatíveis com as infraestruturas e os motores existentes, permitindo uma transição mais rápida e menos dispendiosa.
A colaboração da Airbus com empresas do setor, como a GE Aerospace e a Safran, para desenvolver motores com arquitetura de openfan e a adptação de turbofans para a utilização de SAF, demonstra um compromisso importante com a sustentabilidade futura da aviação. Os testes, realizados em aeronaves A380, são um passo importante para a implementação em larga escala destas tecnologias.
A decisão de adiar os planos de hidrogénio não é colocada pela indústria como um passo atrás, mas sim como um ajuste estratégico necessário para enfrentar os desafios tecnológicos e regulatórios. A aposta nos SAF como uma solução imediata e viável para a redução das emissões de CO₂ é uma abordagem pragmática que permite à indústria continuar a transição para uma aviação mais sustentável.
Portugal tem demonstrado um compromisso importante com a sustentabilidade no setor. A criação da Aliança para a Sustentabilidade na Aviação (ASA) é um exemplo disso, ao reunir a comunidade científica, a indústria e as organizações públicas relevantes, rumo a uma estratégia nacional para a descarbonização da aviação. O Governo português, através do Ministério das Infraestruturas e Habitação e do Ministério do Ambiente e Energia, está a liderar esta iniciativa, com o apoio da Agência Nacional de Aviação Civil e da Agência Portuguesa do Ambiente. A ASA tem como objetivo promover o uso de SAF e criar condições para apoiar a sua produção. Além disso, a TAP Air Portugal está a desenvolver um plano de sustentabilidade que inclui o uso de SAF e a adoção de novas tecnologias e aeronaves mais eficientes.
A nível global, há várias iniciativas em curso neste âmbito. A Organização da Aviação Civil Internacional lançou o Finvest Hub, uma plataforma para garantir financiamento para projetos na área, como a produção de SAF e infraestruturas de energia limpa. Este movimento visa acelerar a transição para uma aviação com emissões líquidas zero de carbono até 2050. Já o Programa de Aviação Sustentável da EASA - Agência Europeia para a Segurança da Aviação apoia a investigação e inovação em tecnologias ecológicas, promovendo incentivos para a descarbonização do sistema de aviação.
A indústria está a sobrevoar por um caminho complexo e desafiador, mas preocupada com a sustentabilidade. Os esforços no desenvolvimento de tecnologias de hidrogénio e SAF sublinham esta transformação crucial para o futuro próximo. Portugal, com as iniciativas e programas em curso, posiciona-se também neste compromisso global.
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