Quando achamos que o Chega não é capaz de nos surpreender mais na indignidade, na lama em que se banha, na indecência, na grosseria, na alarvidade, na falta de decoro e no desrespeito por valores básicos civilizacionais, eis que mergulha ainda mais no fundo, como vimos no que aconteceu nos comentários à deputada Ana Sofia Antunes. Por se tratar de uma deputada com deficiência, torna-se apenas mais evidente a indigência mental e moral daquele grupo parlamentar.
O Chega é um partido imoral. O Chega é um poço de contradições.
O Chega grita contra a criminalidade, mas os seus deputados, dirigentes e militantes afundam-se em acusações e condenações por crimes.
O Chega grita contra os imigrantes, associando-os à criminalidade, mas é no seu grupo parlamentar que a proporção entre pessoas e crimes é mais alta do que na população imigrante.
O Chega grita contra a indisciplina nas escolas, mas os seus deputados comportam-se como qualquer aluno que seria convidado a sair da sala de aula, suspenso ou transferido.
O Chega grita contra a corrupção, mas é neste partido que se acumulam as suspeitas sobre financiamentos de grupos e cidadãos altamente suspeitos.
O Chega grita contra os tachos, mas o seu partido recruta os desvalidos dos partidos da direita, que não aguentam ficar fora das listas de deputados dos seus partidos de origem e se contorcionam nas suas posições.
O Chega grita contra as despesas do estado, mas esquece-se que é o mesmo estado que paga os seus salários e gabinetes.
O Chega grita contra os políticos oportunistas, mas recruta quem nunca trabalhou na vida ou sai diretamente dos rendimentos pouco declarados para o lugar de deputado.
O Chega grita contra a imprensa e os jornalistas, mas usa o grafismo dos jornais de referência para difundir informação falsa nas redes sociais.
O Chega grita contra a esquerda, mas não tem coerência nos modelos e nas propostas que defende.
O Chega grita contra os pedófilos, mas defende o seu pedófilo confesso, relativizando o crime através da difamação impune, rasca e nojenta dos que foram absolvidos pela justiça ou nem sequer chegaram a ser acusados.
O Chega grita contra a igualdade de género, porque tem nos seus quadros agressores, hipócritas homofóbicos escondidos na sua vida privada e mulheres que ontem eram defensoras da igualdade e hoje, por oportunismo, se sentam ao lado dos misóginos.
O Chega grita “vergonha”, mas não tem vergonha dos seus próprios gritos em que trata deputadas por “vaca”, entre outros impropérios.
O Chega grita pela verdade, mas o seu líder mente nas redes sociais, partilhando vídeos falsos.
O Chega grita pelos valores do cristianismo e tira fotografias em igrejas, mas viola diariamente a doutrina social da igreja e os mais básicos valores do amor ao próximo.
O Chega grita pelos agricultores e pelas vítimas dos incêndios, mas mente e nega as alterações climáticas.
O Chega grita pela decência, mas mina as instituições democráticas por dentro.
O Chega grita pelas forças de segurança, mas desrespeita-as, instigando-as a violarem a sua missão e a adotarem comportamentos violentos.
O Chega grita pela “limpeza” de Portugal, mas suja-o todos os dias.
O Chega grita pela sua coragem e bravura marialvas, mas vitimiza-se de cada vez que a sua tibieza moral é exposta.
O Chega grita contra a impunidade dos criminosos, mas só se livra dos seus quando os casos chegam às notícias.
O Chega grita contra o comunismo e o socialismo, mas vive de uma liderança unipessoal e do culto da personalidade à la Stalin, Ceausescu ou Kim Jong-il.
O Chega já não engana.
Os comportamentos indignos do Chega não podem mais ser branqueados e legitimados pelo presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco, que com o seu “pode”, com a sua demissão da função de preservar a elevação dos deputados, alimentou um monstro que, agora, já não consegue controlar.
Sim, cabe aos deputados dos partidos democráticos, na ausência de um Presidente que presida, redignificar com veemência a Assembleia da República.
Volta, Almada Negreiros, que precisamos de um novo “Basta, pum, Basta”:
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