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Opinião

O fim da vergonha

Não se trata apenas de (mais) um crime contra a humanidade. Trump e Netanyahu não tiveram quaisquer pruridos em contestar abertamente, perante o resto do mundo, os alicerces do Direito Internacional

O filósofo e matemático britânico Alfred North Whitehead escreveu que toda a história da filosofia ocidental se resume a uma série de notas de rodapé à obra de Platão. Na monumental obra do filósofo grego “A República” encontramos um excerto bastante ilustrativo da guinada transformadora que a segunda administração Trump incorpora. Na discussão entre Trasímaco e Sócrates assiste-se à exposição de duas visões antagónicas de justiça, que hoje se digladiam abertamente. Sócrates expõe a justiça como uma virtude política, que visa o bem de todos. Ao ouvir Sócrates discorrer sobre a sua conceção de justiça na polis, o sofista Trasímaco intervém, com irritação, e exclama: “a justiça é a vantagem do mais forte!”. Para Trasímaco, o poder serve apenas aquele que o exerce. A ideia de uma justiça independente, e do exercício do poder com outros fins que não a autoperpetuação, é repudiada pelo filósofo. Foi essa ideia que prevaleceu, inicialmente na ordem interna dos Estados, com o advento da razão e a sujeição do poder político a vínculos externos, designadamente o respeito pelos direitos fundamentais dos indivíduos. Posteriormente, com a lenta e dolorosa construção da ordem internacional baseada em regras e no respeito pelo direito internacional, o gentil civilizador das nações, como lhe chamou Martti Koskenniemi.

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