Fomos nós que elegemos Donald e os filhotes de Trump que leva debaixo do braço para semear uma nova ordem
Estou neste momento a ver a cerimónia da tomada de posse de Donald Trump. E lembrei-me disto. Para o álbum “Beggars Banquet”, em 1968, Mick Jagger criou uma canção particularmente inspirada. No auge da picardia com os Beatles, que abriam as portas a letras cada vez mais significativas, também apareceu a Jagger uma lâmpada sobre a cabeça. A batida de ‘Sympathy for the Devil’ é básica na sua dança de três acordes, mas é irresistivelmente tribal. Enérgica, repetitiva. Bélica como tambores de guerra. O toque final, que a imortaliza e lhe dá aura própria, é o longo poema. Numa espécie de “O Exorcista” antes do seu tempo, os Stones vestem a pele do Diabo para falar connosco. O Diabo apresenta-se: é um homem rico e de gosto. Esteve presente em todos os momentos que marcaram a ferros a violenta roda da História do mundo. Mais do que presente: organizou-os e levou-os em frente. Até que pergunta: quem matou os Kennedys? Pergunta parva, porque foi ele e nós, responde. Nós, os que parecemos apenas assistir. Estou a ver a cerimónia da nova chegada de Trump à Casa Branca e nada poderia ser uma mais incrível ironia do que se assemelhar, em tudo e todos os momentos, à verdadeira segunda temporada de uma qualquer série viciante sobre bastidores do poder.
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