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Opinião

O triunfo dos porcos

O triunfo dos porcos

Sílvia Sousa

Professora de Economia da Universidade do Minho

Até que ponto a ambição de uma coesão económica (e social) permanece nas prioridades da Europa? Em que medida partilhamos, enquanto países e povos, ideais políticos comuns?

No preâmbulo do Tratado de Roma, que instituiu as Comunidades Europeias a partir do dia 1 de janeiro de 1958, há uma clara preocupação com o reforço da unidade das economias, assegurando o seu desenvolvimento harmonioso através da redução das desigualdades entre as diversas regiões e do atraso das regiões menos desfavorecidas. Esta preocupação colocava a solidariedade entre os países e os povos na génese da União Europeia. Contudo, embora acompanhada de instrumentos ainda hoje relevantes, como o Fundo Social Europeu, permaneceu adormecida até à adesão de Portugal e de Espanha, em 1986, que, juntamente com a Grécia e a Irlanda, veio dar peso político aos países com estruturas económicas mais frágeis e economias menos desenvolvidas, permitindo elevar a prioridade do desenvolvimento das regiões mais desfavorecidas no âmbito das políticas comunitárias, nomeadamente da política regional e, em particular, da política de coesão. A este grupo juntava-se Itália, com uma parte significativa do seu território composto por regiões pobres. Uma prio­rização que não impediu que, na década de 90, com dívidas públicas crescentes e economias frágeis, os países mediterrâneos fossem apelidados pejorativamente pelo acrónimo, em língua inglesa, de PIGS, altura em que a Irlanda ainda desfrutava da sua condição de “Tigre Celta”. Este acrónimo ganhou novo folêgo com a crise das dívidas soberanas e dos défices públicos, iniciada em 2008, com a imprensa britânica e anglo-saxónica a recuperar a designação e, mais tarde, a juntar-lhe um segundo I para incluir a Irlanda ou, se conveniente, a substituir Itália pela Irlanda. A natureza depreciativa do termo não passou despercebida aos líderes desses países, alguns repudian­do publicamente a sua utilização.

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