Portugal em órbita
Estamos bem posicionados em áreas como sustentabilidade no espaço, robótica e inteligência artificial aplicada a sistemas aeroespaciais
Professor da Escola de Engenharia da Universidade do Minho
Estamos bem posicionados em áreas como sustentabilidade no espaço, robótica e inteligência artificial aplicada a sistemas aeroespaciais
O ano de 2024 destacou-se como um marco para o setor aeroespacial em Portugal, impulsionado pela execução de projetos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do Portugal 2030 (PT2030). Este progresso reflete a forte colaboração entre o Governo, a indústria e as universidades, mas as políticas regionais também têm desempenhado um papel crucial na descentralização e no fortalecimento da competitividade local.
No contexto do PRR, Portugal alcançou uma taxa de execução de 38,6% até novembro de 2024, com a submissão antecipada do 6.º pedido de pagamento à Comissão Europeia, no valor de 2,9 mil milhões de euros. Este financiamento foi direcionado para a modernização de setores estratégicos e, crucialmente, a capacitação tecnológica no setor espacial. Paralelamente, o PT2030 consolidou investimentos em projetos estratégicos, promovendo a modernização das infraestruturas e a criação de hubs tecnológicos. Em particular, foram atribuídos 75 milhões de euros para iniciativas ligadas à inovação aeroespacial. O programa priorizou a formação de recursos humanos altamente qualificados e o fortalecimento de parcerias público-privadas, sendo que as universidades e as regiões assumiram um papel central na transferência de conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias pioneiras.
Nas políticas regionais, o Alentejo destacou-se com o Aeródromo Municipal de Ponte de Sor como um centro de excelência, beneficiando de um investimento superior a 10 milhões de euros em 2024, criando oportunidades para start-ups e empresas inovadoras. A Região Norte, com forte apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR-N), fomentou a criação de hubs associados a universidades como a do Porto e a do Minho. Esta estratégia resultou em 15 projetos colaborativos com empresas, promovendo inovação em áreas como a inteligência artificial e a manufatura avançada. No Centro, o Instituto Pedro Nunes, em Coimbra, e outros clusters atraíram apoio direto de mais de 8 milhões de euros em fundos europeus para desenvolver competências em tecnologias aeroespaciais. Estas iniciativas ampliaram a capacidade de inovação local e criaram mais de 200 empregos qualificados.
As universidades portuguesas formaram mais de 500 estudantes e investigadores em engenharia aeroespacial, consolidando um pipeline de talentos para o setor. Lideraram também vários projetos tecnológicos. O Instituto Superior Técnico (IST) teve um papel crucial no desenvolvimento de micro e nano satélites, como o ISTSat-1, lançado com sucesso em 2024. O nanossatélite Prometheus-1 da Universidade do Minho é lançado hoje, tal como o PoSat 2, da empresa LusoSpace, refletindo avanços na miniaturização de sistemas e na coleta de dados climáticos, posicionando Portugal como um contribuidor relevante em missões de observação da Terra e telecomunicações. O lançamento é feito a bordo do lançador Falcon 9 da SpaceX, a partir do Porto Espacial de Vanderberg, nos EUA, consolidando a integração de Portugal nas cadeias globais da indústria aeroespacial. O Prometheus-1 representa a terceira licença concedida pela ANACOM, após os sucessos do MH-1 e do ISTSat-1, e inicia um processo de presença espacial regular, já planeada, com futuros lançamentos nacionais e respetivo desenvolvimento da capacidade em upstream e downstream.
Os investimentos em 2024 traduziram-se em resultados concretos: só no primeiro semestre, o setor aeroespacial português cresceu em termos de exportações 100% face ao período homólogo de 2023, ultrapassando os 67 milhões de euros, segundo o INE. Este crescimento foi impulsionado pelas políticas regionais, pela colaboração entre ensino superior e indústria, pela criação de clusters como o de Ponte de Sor e pela internacionalização das empresas do setor.
O futuro é promissor, com Portugal bem posicionado para liderar em áreas como a sustentabilidade no espaço, a robótica e a inteligência artificial aplicada a sistemas aeroespaciais. A continuidade das políticas regionais será essencial, aproveitando as vantagens competitivas locais e reforçando a coesão territorial. O ano de 2025 trará certamente mais iniciativas e novidades.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt