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Opinião

Vermeer, zucas e tugas

Como o chapéu de um quadro do pintor holandês explica muito do que vivemos hoje. Até nas caixas de comentários, nos insultos entre portugueses e brasileiros

Fuck, Portugal! Como é que um país que praticamente inventou o comércio de escravos ainda é assim tipo pobre? Uma Espanha em baixo orçamento.” Com tantos expats, Lisboa tem agora clubes de comédia que humoristas estrangeiros já incluem nas suas tours. Na página de Instagram desse clube específico estava um excerto da rotina de um comediante cingalês radicado na Grã-Bretanha, Vidura B. R., que virá cá em fevereiro. Já foi retirado. Acho que por causa dos comentários — tinha centenas. Pessoalmente, acho que a piada tem graça. A primeira vaga de comentários chegou de brasilei­ros a beatificar o comedian­te — “deem-lhe passaporte e nacionalidade brasileira”. A segunda, de portugueses, que começaram a chamar-lhe ignorante: “sempre houve comércio de escravos”, etc. E, depois, de brasileiros e portugueses a insultarem-se mutuamente. Há um passado que anda a ser revisitado nas caixas de comentários e em tuítes, e isso, digamos, não é muito saudável. A verdade é que desde que os EUA colocaram o cerne da sua identidade na questão da escravatura, Portugal teria de acabar por ficar reduzido a “comerciante de escravos”. Muitos brasileiros e portugueses digladiam-se numa guerra de insultos nas redes sociais à volta de versões sobre a História, insultos que se resumem a “devolvam o ouro, ladrões” e “és branco e chamas-te Silva e és brasilei­ro? Os teus antepassados é que foram para aí roubar”; ou qualquer coisa do género. E, contudo, a piada, repito, teve graça e tocou num nervo. E agora chamo para aqui um documentário sobre um pequeno quadro de Vermeer.

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