O populismo raramente reage à crise; depende dela. Não governa para resolver problemas. Governa para os perpetuar. Porque, sem crise, não há palco. Sem antagonismo, não há narrativa. E, sem narrativa, desaparece
Entramos em 2025 com um dado esmagador: em 2024, a democracia global recuou ao nível de 1985 — ano em que Mikhail Gorbachev assumiu o poder na União Soviética. Segundo o V-Dem Institute, 42 países, representando 35% da população mundial, estão em processo de autocratização. É o maior retrocesso democrático em bloco desde 1900. Numa recente entrevista ao jornal Le Monde, Staffan Ingemar Lindberg, diretor do Instituto, apontou que os dados são ainda mais sombrios do que os da década de 1930. E, ao contrário dessa época, não há sinais de recuperação. Pelo contrário, o declínio acelera. A democracia não está apenas a perder terreno; está a ser ativamente desmontada. Não por um golpe de Estado tradicional, mas por líderes que usam as suas ferramentas para a corroer por dentro, transformando instituições em armas e percepções em verdades absolutas.
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