Opinião

Lições de Democracia – parte I

Lições de Democracia – parte I

Davide Amado

Presidente da Concelhia do PS de Lisboa

Deixamos a Carlos Moedas o desafio e um conselho grátis: já que se apropriou dos mupis espalhados pela cidade para propagar a sua palavra, que permita então a todos os partidos, em condições de igualdade, que usem estes meios camarários já instalados

No último ano da gestão socialista em Lisboa, Carlos Moedas fez uma das maiores campanhas de que há memória com recurso a outdoors. Ficou famoso o cartaz no Marquês de Pombal em que o então candidato em tamanho gigante saía da moldura. Nessa altura, Moedas achava boa política encher Lisboa com os seus cartazes. Agora, que se dá ao luxo de utilizar a rede institucional da autarquia para a sua propaganda político-partidária, manda retirar, de forma ilegal, os cartazes da oposição.

A operação de “limpeza” aconteceu nos últimos dias do ano na Alameda D. Afonso Henriques, com a remoção de seis outdoors do PS, do PCP, do Bloco de Esquerda, do Chega e da Iniciativa Liberal. Carlos Moedas justificou a ação com a necessidade de “salvaguardar o património e a fruição plena do espaço”. Curiosamente, nenhum dos cartazes retirados era do PSD ou do CDS.

Em outubro de 2022, para poder fazer o mesmo no Marquês de Pombal, a Câmara Municipal de Lisboa teve de abrir um processo para classificar a zona como “conjunto de interesse municipal”, medida administrativa destinada à proteção do enquadramento de monumentos nacionais ou de edifícios de interesse público. Desta vez, porém, Moedas nem se deu a esse trabalho. Mesmo com a garantia de alguns partidos de que retirariam os cartazes, optou por uma ação “musculada” para mostrar quem manda.

Acontece que estes cartazes são, muitas vezes, a única forma que os pequenos partidos têm de comunicar com os eleitores. Para quem está no poder, o acesso aos meios de comunicação não é um problema, mas o mesmo não se passa com todas as forças políticas. Proibir ou limitar esta forma de expressão é um abuso de poder e uma maneira antidemocrática de lidar com a oposição.

Moedas pode ter este comportamento salazarento porque tem a máquina da Câmara a trabalhar para si, basta ver os mupis espalhados pela cidade a exibirem permanentemente a propaganda moedista. Um autarca consciencioso deveria usar estes meios para informar os lisboetas, não para o culto da imagem. Juntemos também os patrocínios a jornais, rádios e as avenças com agências de comunicação, para se perceber que Moedas colocou as fichas todas na comunicação para disfarçar o desastre da sua governação.

Concordamos que os cartazes políticos não são propriamente um elemento elegante ou distintivo nas cidades. As suas dimensões, slogans e cores berrantes são tudo o que dispensaríamos na paisagem urbana. Mas, como disse Winston Churchill, "a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros". Por isso, enquanto não se encontrar uma forma menos invasiva para a comunicação política, evitemos que se aniquile a voz da oposição.

Deixamos a Carlos Moedas o desafio e um conselho grátis: já que se apropriou dos mupis espalhados pela cidade para propagar a sua palavra, que permita então a todos os partidos, em condições de igualdade, que usem estes meios camarários já instalados. Só então poderá eliminar, com propriedade e razão, os cartazes políticos de que não gosta. E gabar-se de acabar com a poluição visual sem estar a calar quem não concorda com ele. A isto chamamos Democracia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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