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Opinião

Tigres e criancinhas

Tigres e criancinhas

Rodrigo Guedes de Carvalho

Jornalista e escritor

O meu receio é o velho e real perigo de fazer o mal julgando fazer o bem

Ler sobre Churchill é exasperante. Julgo que nos acontece sempre com as figuras que ficaram para a História por caminharem uns passos largos à frente do seu tempo. Perante os livros bem escritos e os documentários bem contados damos por nós em ânsias, suspensos e engolidos num romance de que fingimos não saber o fim. Acreditamos, a meio, que poderá ser diferente se alguém der ouvidos ao desespero do homem que ergueu o decisivo escudo à cavalgada nazi. Isolado na clarividência, Churchill usou toda a artilharia do seu requintado vocabulário, da sua frenética retórica. Hitler não travaria um centímetro, não mostraria um farrapinho de misericórdia, não descansaria um dia até vergar pela espinha a Europa que humilhara a Alemanha 20 anos antes. A rígida estrutura inglesa, entretida em protocolos e crenças ingénuas de diálogos, acordos e bons sensos, não acreditou no fatalismo de Churchill até não ter outro remédio. O único caminho era a guerra. A resistência. A defesa. A não rendição. Porque enquanto Hitler sentisse hesitação e terreno mole, não pararia até destruir a ilha, ou torná-la escrava. E foi nesta fase de avisos sucessivos que Churchill recorreu a uma imagem que ainda hoje ecoa. Quando lhe sugeriram mais uma cobarde e inútil tentativa de negociação, explodiu: “Não se pode negociar com o tigre quando temos a cabeça dentro da boca dele.”

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