2025: um ano de profundas banalidades

Todos os anos, em Dezembro, procuro saber como vai ser o ano seguinte, e o melhor sítio para o descobrir são as previsões astrológicas do “Jornal de Notícias”. Sempre me surpreendeu que os jornais tivessem páginas dedicadas à astrologia. A surpresa não é propriamente a existência de uma secção de astrologia, é a inexistência de secções dedicadas ao terraplanismo ou à busca de água subterrânea com um pau de sabugueiro. Para a comunicação social, umas pseudociências são filhas e outras são enteadas, o que me parece injusto. A leitura atenta das profecias do “JN” para 2025 revela que o ano que vem será de grande mudança, o que significa que será igual aos outros. É o grande paradoxo destes vaticínios: se prevêem mudanças, mantêm-se na mesma, uma vez que todos os anos se antecipam mudanças. Já Camões sabia que todo o mundo é composto de mudança, excepto nos horóscopos, que permanecem iguais a prever que nada ficará igual. Uma vez que o zodíaco tem 12 divisões, e que cada uma delas é influenciada por astros diferentes, seria de esperar que os nativos de cada signo tivessem destinos radicalmente distintos. Ao que parece, no entanto, o universo anda muito harmonioso, e os planetas estão conluiados para produzir exactamente o mesmo efeito sobre toda a gente, o que acaba por ser astrologicamente democrático. Repare-se na advertência do “JN” ao nativo de Aquário: “Prepare-se para uma jornada de transformação!” Comparemos, agora, este aviso com os conselhos dados, respectivamente, ao nativo de Peixes, Carneiro e Gémeos: “Prepare-se para um ano de grandes transformações”, “Prepare-se para um ano de transformações profundas!”, “Prepare-se para um ano de grandes mudanças!” No caso de Gémeos, o oráculo reforça o anúncio: “Um ano de transformações profundas!” Os nativos de Touro terão um futuro muito parecido: “Um ano de transformações e novas oportunidades!”