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Opinião

A degradação democrática

Ao pé de Soares e dos da sua geração, nenhum dos políticos de hoje vale absolutamente nada. Aqueles tinham causas; estes têm oportunidades. Aqueles, mesmo quando aos tombos, queriam o bem; estes, na melhor das hipóteses, não sabem o que querem

Se ainda fosse vivo, Mário Soares — que faria 100 anos este sábado — olharia para tudo isto, Portugal e o mundo, com uma irreprimível fúria, daquelas fúrias que volta e meia o acometiam e graças a muitas das quais nos deixou em herança um país livre. Talvez começasse por explicar a António Costa que não é obrigação de um presidente do Conselho Europeu que se estreia em funções ter como primeiro acto ir ao beija-mão a Zelensky em Kiev, ou explicar ao actual MNE que a adesão da Ucrânia à NATO não pode ser “irreversível” e que ir atrás da última exigência de Zelensky, neste momento, implicaria o envolvimento directo dos 32 países da NATO, Portugal incluído, numa guerra com a Rússia. Ele, que foi, com Kissinger, dos primeiros dirigentes políticos ocidentais a antever e a avisar que a expansão da NATO em direcção às fronteiras da Rússia era uma provocação que traria consequências, explicaria a esta pobre elite europeia que a política externa num mundo de potências nucleares não é assim tão simples como viver a apregoar a superioridade moral do Ocidente. E ele, que foi ao Líbano encontrar-se com Arafat quando este e a OLP estavam cercados e prestes a ser exterminados pela primeira invasão israelita, não toleraria calado a indecente dualidade de critérios morais que a elite política europeia aplica à Rússia ou a Israel.

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