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Opinião

A rendição a Trump

Como foi possível que os dirigentes da Europa imaginassem que a maioria dos americanos estava disposta a ser arrastada para uma guerra?

Tudo foi mais rápido, mais nítido e mais fulminante do que quaisquer previsões: não houve milagre algum, apenas a confirmação de um pesadelo. Trump ganhou no voto eleitoral e no voto popular em todos e cada um dos sete estados decisivos, entre os brancos, os latinos, os universitários e os analfabetos, os ricos e os pobres. Ele e os republicanos levaram tudo consigo — a Casa Branca, o Senado, a Câmara dos Representantes e a maioria dos governos estaduais. Se a tudo isto acrescentarmos o Supremo Tribunal, onde no seu anterior mandato Trump já tinha garantido uma confortável maioria vitalícia, o movimento MAGA pode finalmente levar avante, sem freios, a revolução fascista nos Estados Unidos: lembra o enredo ficcionado por Philip Roth em “A Conspiração contra a América”. Com uma imprensa subjugada pela sabotagem das redes sociais e a conivência dos seus donos, com os poucos republicanos ainda não submetidos à subversão constitucional afastados como traidores, tudo o que poderá travar Trump na execução sumária do seu anunciado desejo de vingança contra o “inimigo interno” serão, talvez, as Forças Armadas, se ele se lembrar de as convocar para essa guerra suja ou outras em que a honra militar lhes imponha a desobediência. De resto, nada mais ou nem mesmo isso. Dotado de um ego desmedido, arrogantemente ignorante como só um americano é capaz de ser e psicopata à solta, ele tomar-se-á por uma encarnação divina e, no extremo da demência, como Nero, pegará fogo a tudo e à cidade. Talvez sobrevivamos às chamas, não ao espanto. Nem aos danos. Eles, nós, o planeta.

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