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Opinião

A culpa dos três ossinhos de Colombo

Genovês, espanhol ou português? Não se sabe. Os judeus americanos renegam-no. O seu dia nasceu há mais de 130 anos, e se não está morto para lá caminha

Escrevo antes das eleições na América. Sei que devia dizer Estados Unidos da América e não “América”. O Américo Vespúcio deu uma grande golpada. Ficou com o nome do continente e escapou às polémicas da atualidade. Cristóvão Colombo passou de “herói descobridor” a “genocida escravocrata”, o símbolo de todo o mal que os europeus por lá fizeram. Nem se sabe onde o homem nasceu. No início de outubro, a televisão espanhola (TVE) transmitiu um documentário em que defendia a hipótese de Colombo ser judeu sefardita — ou ter ascendência judaica. No dia seguinte, a imprensa espa­nhola arrasou o doc-thriller, um embuste. O único material genético que há são três pequenos ossos que foram resgatados da catedral de Sevilha em 2003. E cujo ADN estava demasiado degradado para qualquer conclusão. O programa foi uma amálgama de teses já desmontadas, apresentadas em forma de concurso. A academia espanhola estava danada: Cristóvão Colombo podia ser espanhol. Mas também genovês ou português e ter ascendência judaica. E ser um cristão-novo, recém-convertido, e que partiu precisamente no ano em que os Reis Católicos assinaram o afamado Decreto de Alhambra, a expulsar todos os ju­deus que não se convertessem. O docu­mentário não provava nada. Péssima forma de comemorar o 12 de outubro, o dia da hispanidade, do orgulho espanhol, e que coincide com o dia da chegada de Colombo ao Novo Mundo. Mas nada de dramático em Espanha.

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