Os pobres, brancos ou pretos, não são inimputáveis e não são apenas vítimas do racismo ou do snobismo
Desarmar o racismo do Chega não se faz com o paternalismo do BE e das milhentas bugigangas organizacionais que circulam na órbita gravitacional cada vez mais fraca do BE. Desarmar o racismo do Chega faz-se com realismo e humanismo, faz-se com a ideia de que as pessoas daqueles bairros não são categorias, não são “os pobres” ou “os negros”. Quando se abre o leque humano daqueles bairros, encontramos o leque da Humanidade por inteiro que vai da santidade à crueldade; e no meio a maioria das pessoas tenta sobreviver física e moralmente à pobreza. Além disso, há divisões internas dentro dos bairros, como em qualquer outra realidade humana. Portanto, é preciso tratar aqueles rapazes como indivíduos, como pessoas dotadas de livre arbítrio e com capacidade de escolha. Exercer o juízo moral numa barraca da Póvoa é mais difícil do que exercer esse mesmo juízo na Av. Roma, até porque há uma neurologia associada ao stresse da pobreza que cria, de facto, condições químicas e neurológicas que conduzem a sucessivas más escolhas. Mas o juízo moral, apesar de estar tapado pelo lixo, não desaparece. Os pobres, brancos ou pretos, não são inimputáveis e não são apenas vítimas do racismo ou do snobismo. Também são agentes morais e muitas vezes, em nome de identidades fechadas, recusam caminhos para sair da pobreza física e mental. E sempre que, a reboque do BE, desresponsabilizam quem incendia carros e autocarros, os media estão a fomentar a divisão e o racismo do outro lado.
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