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Opinião

A colonização algorítmica do amor

Querem deixar o Tinder, mas não sabem navegar cá fora — no mundo analógico. Estão fartos. Mas a solução está em dar mais potência aos algoritmos da sedução

Os números são avassaladores, mas, como é natural, variam de país para país, de região, de idades e de clas­ses sociais — o habitual em genera­lizações. Mas arranquemos com isto. Há uma enorme faixa da população jovem que depende do Tinder para arranjar um relacionamento amoroso, aplicação que há uma década começou por ser “apenas” uma app de sexo, mas que se foi ­reinventando como casamenteira. Talvez cá não tenha tido tanto sucesso, não sei. Interessei-me pelo fenómeno quando surgiu, e não parecia talhado à maneira de ser dos portugueses. Faziam match e ficavam em silêncio, entretidos em colecionar potenciais encontros nunca tentados, um alinhar de troféus por “caçar”, uma pontuação de quão sedutor o seu perfil era. Uma fila de fotos, o sinal de que ambos deslizaram — fizeram swipe — a foto para o mesmo lado. Nada mais. Por terem sido feitos estudos em vários países, sei que no Tinder e noutras aplicações similares foi efetivamente delegada a responsabilidade de se encontrar um parceiro romântico, porque é mais fácil, porque a minha vida é muito complicada, sabem como é. De que ao fim de 10 anos não há estigma. E que há é desilusão, cansaço, um “Tinder burnout”, um esgota­mento. No uso não só desta app, mas de likes, mensagens diretas a meter conversa que acabam na caixa dos indesejados ou do carimbo de stalker sem o ser. Drama? É que a alternativa é ter de recorrer a “sistemas analógicos de namo­ro” — ou seja, o mundo real. Mas como é que se arranja um encontro romântico fora do grupo de amigos ou do local de trabalho? Isso é possível?, perguntam.

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