Delícia, delícia, esta perícia de nos emocionar com tal arte de versejar
Cada vez que ouço mais uma cantiga sussurrada, em que ele diz que tem dor de corno e ela que foi encornada, pergunto-me se não é a mesma balada que ouvi ontem e na semana passada. E na outra antes dessa, será promessa que fizeram os novos sentimentais, não se atirarem a mais do que o bom velho garantido gasto desgosto, onde há sempre alguém que chora porque alguém foi embora e lhe deixou — ó vida dura — uma imensa cornadura. Condição que leva a mais uma cantiga igual à outra, e à mais antiga, e a seguinte multiplica por vinte as dorzinhas sentimentais, quase abdominais, pontadas desesperadas nesses corações tão suaves, pouco dados a dores mais fundas e graves. Baladas que na rádio rodam o dia inteiro e algum mealheiro estará a inchar, contente, com a fórmula da canção que anda na boca de toda a gente. Cantam elas e eles no carro a acompanhar, é só decorar o refrão, canta a mãe e o pai, e o bebé pois então, e a nova cançoneta encanta também os avós e a neta.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt