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Opinião

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Por decisão de quem os governa, os israelitas não verão um único refém voltar vivo para casa. E nós continuaremos a assistir ao ódio demencial de Bibi e dos seus. Até quando, até onde? Até que nos falte a gasolina nos postos de abastecimento: aí a nossa consciência acordará

Os seis reféns israe­litas mortos na flor da idade, num túnel do Hamas, em Gaza, durante uma operação de resgate da tropa israelita, podiam ter sido devolvidos às famílias dias ou semanas antes se Benjamin Netanyahu não tivesse sempre, à última hora e quando um acordo parecia iminente, avançado com novas exigências, que falsamente atribuía ao Hamas. Mas finalmente todos parecem ter percebido aquilo que há muito entrava pelos olhos adentro de qualquer um: que ele jamais quis ou quererá um acordo que ponha fim à terraplanagem e massacre de Gaza. Bibi prefere matar quantos palestinianos puder do que libertar um só refém israelita. Prefere lançar toda a Palestina, todo o Médio Orien­te e o mundo, se necessário, num mar de chamas e destruição do que cessar o seu ódio demencial. Com o assassínio em Teerão do negociador principal do Hamas, Ismail Haniyeh, ele mostrou simultaneamente não estar interessado em negociações de paz e até querer atrair o Irão para o conflito; já iniciou a invasão aberta e a anexação da Cisjordânia e prepara a do Líbano, não descartando sequer o regresso a um clima de confrontação com o Egipto, pela exigência última de manutenção das IDF no “corredor Filadélfia”, na fronteira entre Gaza e o Egipto, em violação dos Acordos de Camp David. Tudo sustentado no apoio militar, que está certo de que nunca lhe falhará, dos Estados Unidos e outras potências ocidentais. Mesmo agora que se atirou violentamente à decisão do Governo trabalhista inglês de suspender 30 das 350 licenças de exportação de armamento para Israel, tal não passa de uma berraria para efeitos de propaganda, visto que a suspensão só funcionará quando estiver em causa a possibilidade de “uma violação grave do direito humanitário” em Gaza (como se os 40 mil mortos e a destruição à vista ainda precisassem de demonstração...). E, do alto da sua arrogância, goza com o amigo Joe Biden e as suas tentativas de fechar um acordo, sabendo que a falta dele favorecerá as aspirações do seu ainda mais amigo Donald Trump em Novembro próximo — de cuja vitória espera luz verde para o genocídio final. A mesma luz verde que recebeu logo no início do morticínio — aliás, “legítima defesa” — por parte da Europa e pela voz de Ursula von der Leyen, estabelecendo daí em diante a doutrina dos 27 sobre o conflito: calados, apáticos, coniventes, para sempre cobertos de vergonha. Ou, nas palavras do nosso MNE, prontos a tomar medidas contra o Governo criminoso de Israel depois de obtido o consenso geral: ou seja, nunca.

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