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Opinião

Citius, altius, fortius, pressionius

A partir do momento em que eSports são desporto, o mais provável é que apareçam jogos de eSports para a Playstation

A notícia foi publicada há um mês, mas eu decidi esperar pelas reacções. Surpreendentemente, ninguém reagiu. O título era: “PS quer reconhecer eSports como desporto oficial. Proposta já era defendida pela IL”. Tratava-se, portanto, de uma iniciativa supra-ideológica. Socialistas e liberais opõem-se em quase tudo, mas num ponto estão totalmente de acordo: jogar Playstation é desporto. Cito a notícia da Renascença: “Bernardo Blanco recorda que, apesar de não ter um exercício físico ‘tão intenso como outras’ modalidades, tem regras e competição entre pessoas com diferentes níveis de habilidade que se treina.” O deputado da Iniciativa Liberal concede que há modalidades que requerem esforço físico mais intenso, mas considera que jogar Playstation também puxa pelo cabedal. Eu sempre estive convencido de que uma actividade que pode ser praticada no sofá da minha sala de estar não é um desporto. E era isso que explicava a inexistência da prova olímpica de “comer um pacote de batatas fritas”, bem como do campeão mundial de “coçar a virilha a ver um filme”. Mas, agora, da esquerda à direita, do PS à IL, verifica-se um amplo consenso no sentido de considerar que pressionar botões com as falangetas é desporto. Carregar no triângulo, na cruz, na bola e no quadrado é uma modalidade desportiva. Ao que parece, e-futebol é futebol. Deixa de fazer sentido escarnecer de adversários dizendo-lhes que o único sítio onde têm hipóteses de poderem ser campeões é na Playstation. Agora podem mesmo. No entanto, se os eSports são mesmo desporto, praticado por atletas, pode ser que o “Call of Duty” seja mesmo guerra, praticada por soldados. Há um mês, o meu sobrinho derrotou o exército alemão na Normandia e não foi notificado para receber a Cruz de Guerra. Por outro lado, se jogar e-futebol é praticar desporto, jogar “Grand Theft Auto” terá de ser equivalente a cometer crimes. Na semana passada, o meu sobrinho assassinou dois mafiosos e assaltou um taxista, e o facto de poder estar a recuperar de um trauma sofrido na guerra, no mês passado, não é desculpa para não estar ainda preso.

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