Aos 45 não estou velho, mas comecei a envelhecer, e não há coaching, pensamento positivo, ginásio, pilates ou natação que apague o inevitável
É curioso como mudamos a perceção sobre um filme ou quadro com o passar dos anos. Estás a ver aquela famosa cena do Bergman, um homem a jogar xadrez com a morte? Sempre encarei aquela beleza luciférica como um quadro, uma foto, e não um filme, não via o movimento. Agora vejo e sinto o movimento, porque sei que há uma fila atrás daquele homem, todos nós jogamos esta partida no matadouro xadrezista; sei que os meus pais e tios estão a jogá-la neste momento e, ainda pior, levantei a cabeça, olhei para um lado e para o outro, e percebi que já estou no meio da fila do açougue. Aos 45 não estou velho, mas comecei a envelhecer, e não há coaching, pensamento positivo, ginásio, pilates ou natação que apague o inevitável: até este momento subi nos ares o mais alto que consegui e agora só posso esperar que os meus motores não sejam de cera, não quero uma queda a pique; espero que os motores sejam caranguejolas rijas, quero descer a planar com elegância.
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