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Opinião

Dupla Verdade

Há ascese no amor camoniano, mas também agonias e desastres, misérias e enganos, mágoas e vergonhas

Um grande livro camoniano, “Camões: Labirintos e Fascínios” (1994), dedica um terço dos seus textos à Ilha dos Amores e ao amor petrarquista. Vítor Manuel de Aguiar e Silva começa por desincentivar as falácias biografistas, as projecções insubstanciais, as leituras literalistas. Lembrando os exegetas que especulavam acerca da localização geográfica da Ilha dos Amores, o ilustre camonista explica a quem se tenha esquecido que “o discurso poético, diferentemente do que acontece com o discurso da comunicação quotidiana, (...) cria objectualidades puramente intencionais, significando a frase literária, de modo imanente, a sua própria situação comunicativa, sem estar na dependência imediata de referentes reais ou de um contexto de situação externa”. Ou seja, o episódio das ninfas obedeceria a um código literário, um “locus amoenus”, uma ilha de bem-aventurança, procedendo ao mesmo tempo a uma simbólica “divinização” dos navegadores portugueses e da História portuguesa, uma utopia ou, como escreveu Jorge de Sena, uma catarse de todas as misérias da vida de Camões e da época de Camões.

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