Cada vez estou mais convencido que um bom advogado é necessariamente uma pessoa bem formada. Por outro lado, a boa formação nem sempre leva à boa execução.
Passo a explicar, do que da observação e (relativamente curta) experiência tenho retirado, é essencial que a deontologia esteja sempre presente. Deontologia essa numa ótica profissional e estatutária, mas, mais importante que isso, numa ótica valorativa e de caráter.
Parece-me que a grande dificuldade passa por sermos honestos. Passa pela honestidade quando a causa tem pernas para andar e, ainda mais difícil, pela honestidade quando a causa está perdida e moribunda. No topo da escala da dificuldade, quando a causa tem pernas para andar, mas não somos os melhores para a patrocinar em virtude de ausência de conhecimento ou de disponibilidade.
Numa outra vertente temos a empatia, empatia essa que conduz necessariamente à envolvência emocional. Desde a senhora cuja sociedade se vai apresentar à insolvência e que, fruto dessa situação, já não consegue pagar os ordenados aos seus funcionários, até ao senhor que, devido a uma doença degenerativa, tem de garantir a totalidade do seu salário que seria, em circunstâncias normais, parcialmente penhorado em virtude de uma dívida.
Por um lado, o envolvimento na história do cliente e na sua situação pode trazer uma maior motivação e um maior “fogo à peça” na defesa da causa, que, em circunstâncias apáticas, robóticas e sociopatas não existiria. Por outro lado, uma excessiva envolvência pode toldar o nosso discernimento e a nossa vertente deontológica acima descrita.
Dito isto, em que ficamos? Como pode ser traçada a fronteira entre um patrocínio empático e humano que consegue assegurar a devida distância de segurança? Até onde deve ir a nossa vertente emocional sem que a vertente profissional fique afetada?
A quem de Direito, especialmente à Academia, sugiro a criação de uma pós-graduação em Law Skills- como assegurar a devida distância de segurança sem nos tornarmos umas autênticas bestas.
A quem de inteligência emocional e de social skills na advocacia, aos Lawyer's coaches que têm crescido e ganhado importância nos últimos tempos, peço o vosso auxílio nesta questão que por vezes me tira o sono.
Por fim, e sem qualquer tipo de ordem de importância, dirijo-me a ti, inteligência artificial.
Agradeço desde já, mas neste caso não será um algoritmo a resolver o problema. O vocábulo é ad vocatus- aquele que foi chamado para junto de ALGUÉM.
A todos, incluindo a sociedade civil, opiniões agradecem-se, críticas precisam-se.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt