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Opinião

Na minha rua não há crianças

Na minha rua não há crianças

Clara Ferreira Alves

Escritora e Jornalista

Não há relações de vizinhança, como antigamente. Nada é estável, como se o bairro mudasse de pele consoante as estações. Um T3 ou T4 é arrendado por cinco a dez mil euros

Na minha rua não há crianças. Nunca se ouve um choro de criança. Há uma escola com adolescentes, mas quando os adolescentes estão de férias, e têm muitas férias, desce um silêncio mortal. Há um silêncio mortal aos domingos. Há carros, muitos carros ao fim do dia de semana. E muitos carros de serviços de entregas, UPS, DHL, etc. Muitas motoretas da Glovo e da Uber Eats, que entregam a gente invisível, gente fechada em casa a ver televisão ou a alimentar a solidão. Nelas deslizam os paquistaneses, nepaleses, indianos, bangladeshianos, as sobras humanas da Ásia miserável.

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