Enquanto os republicanos têm orgulho na sacanice amoral e ilegal de Trump, os democratas têm vergonha de Hunter Biden. É uma diferença oceânica
Perdi a conta às vezes em que ouvi esta pergunta: Porque é que não és de esquerda quando tinhas tudo para ser? A minha resposta costumava ter duas partes. Primeira, é a esquerda que repudia e ataca tudo o que escrevo, mesmo quando estou dentro de tradições progressistas. Segunda: isso acontece porque a esquerda da minha geração (o pós-modernismo), na obsessão de sair do velho marxismo, saltou do 8 para o 80 e, por arrasto, até deixou de ser progressista. Antes, na primeira metade do século XX, ser de esquerda passava por afirmar que só existia uma única verdade (marxismo) e uma única expressão artística (neorrealismo). Depois, quando trocaram Marx por Foucault, ser de esquerda passou a significar a defesa do pós-verdade: não há verdade, logo nem sequer é preciso uma arte narrativa ou figurativa, tudo não passa de um jogo linguístico sem verdadeiro significado empírico ou moral; não há ciência, não há factos empíricos, tudo é relativo; não há moral ou lei universal, só perspetivas culturais. Epistemologicamente, esta esquerda pós-moderna era (e é) igual ao fascismo. Portanto, sim, tenho orgulho em nunca ter pactuado com a fraude pós-moderna que legitimou sempre o pós-verdade, que hoje é usado pelos trumpistas.
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