A coligação que governa o país apresenta, despudoradamente, o seu cabeça de cartaz. O foco vai para o candidato “aqui e ali até polémico” e para a sua “voz”. A AD quer-nos convencer de que nos plenários em Estrasburgo, uma vez por mês, Sebastião Bugalho poderá usar os seus 90 segundos de tempo de discurso para mudar a UE. Mas não é tudo. Graficamente, o destaque vai para a bandeira portuguesa e para as suas cinco quinas. Apesar de Bugalho se afirmar mais europeísta, este cartaz quer-se mostrar também patriótico, unindo as duas bandeiras. Foi uma feliz coincidência ter-lhe dado uma epifania europeia, alegando que hoje é mais difícil criticar a União. Justo agora, quando as forças eurocéticas ganham tração por todo o continente, precisamente porque nunca pareceu tão fácil criticar a UE.
Marta Temido… Pelo menos, o PS acertou nas cores do cartaz, tendo um azul europeu como pano de fundo e usando um amarelo em Europa para não esquecermos que não são eleições legislativas. Agora, o facto de aparecer ao lado de Ana Catarina Mendes e Francisco Assis, faz lembrar a candidatura de Vital Moreira há 15 anos, quando foi preciso trazer para o cartaz pesos-pesados europeus do partido para dar credibilidade ao candidato. Há cinco anos, com o cabeça-de-lista Pedro Marques (se se lembrar, felicito-o), não foi necessário tanto apoio em outdoor, bastaram os mesmos tons de azul e a promessa vaga de um novo contrato social. Espera-se que os idosos, aqueles que se diz estarem gratos pelos cuidados durante a pandemia, possam salvar Temido.
Já André Ventura continua na proa (o que seria um bom trocadilho com o cartaz neocolonial da Nova Direita e da sua capitã Ossanda Líber. Procure-o, vale a pena). Qualquer que seja a razão – partido unipessoal ou posições de Tânger Corrêa sobre judeus, muçulmanos, genocidas, neonazis e COVID-19 –, o candidato que deveria dar a tal gravitas (anti)europeia ao CH será o único cabeça-de-lista a não figurar em cartaz. O partido continua com uma obsessão por Ventura e limpezas. A imundice não existe apenas aqui, encontra-se também, sobretudo(!), em Bruxelas. Veja-se a capa do programa eleitoral para as europeias ou os flyers de divulgação (aí já há Tânger). É disto que a política realmente precisa, gente que arregace as mangas e dê uma boa esfrega nos 85.000 m² do edifício Paul-Henri Spaak.
Como o espaço é curto, visitemos os cartazes dos outros partidos que também devem eleger eurodeputados. A IL voltou às rimas e às mnemónicas. Se Eanes cumpria e Soares era fixe, Cotrim parece, essencialmente, que “sim”. É sim a tudo. O BE mantém a coerência: muita gente, um gesto empático da cabeça-de-lista e até a “Europa”. Há cinco anos, com Marisa Matias, a lógica era a mesma, mas não havia Europa. Contudo, a Europa que ressurge vem atrelada ao único verbo do cartaz “salvar”. Parece que a Europa anda perdida. Os hábitos velhos… Para a CDU, a ideia é clara: um João Oliveira combativo em destaque. Para a coligação a mensagem para a Europa é tão vazia como aqueles clichês de autoajuda: Oliveira está “para o que der e vier”. Vejamos, primeiramente, se vai para o PE. O Livre, por fim, livrou-se de Rui Tavares, mas atrasou-se nos cartazes. Talvez seja melhor. O partido, para mostrar que é o mais integrador, mistura cores com tanta aleatoriedade como eu junto legumes quando quero fazer um prato saudável. O PAN, parece que encontrou o seu cabeça-de-lista, após semanas em que a estratégia foi manter os cartazes, as causas e o rosto das legislativas.
Estou a acabar, mas não resisto a ir ao ADN, perdoem-me. O partido pegou na sua recém-conquistada subvenção estatal, comprou um software de IA generativa e escreveu em caps lock: Europa igual a guerra, explosão aleatória, Joana, Joana ostensivamente pacifista e tudo no mesmo sítio ao mesmo tempo. Se não viram, vejam. Telegraficamente, o Volt, como qualquer partido sem visibilidade mediática, colocou o semblante juveníssimo dos candidatos e enfiou o máximo de palavras e propostas possíveis no cartaz. É natural, em breve, não terá outra montra como esta.
Segundo o último Eurobarómetro, da primavera de 2024, existem três grandes preocupações para os europeus: defesa e segurança, política externa da UE e economia. Três tópicos destacadamente ausentes da comunicação nos cartazes. Além disso, ¾ dos inquiridos diz sentir-se europeu – a taxa mais alta das duas últimas décadas. A crítica implícita à “Europa” nos cartazes nacionais também não parece brilhante. Mas o que é que eu sei, se fiquei aquém do excelente na cadeira de Análise de Campanhas Políticas. Venha de lá a campanha!