Opinião

Advogados: estritos profissionais jurídicos ou seres multidisciplinares?

Advogados: estritos profissionais jurídicos ou seres multidisciplinares?

Rodrigo Vilela de Matos

Advogado estagiário

Na era da inteligência artificial há algumas profissões que têm os dias contados. A advocacia não é uma delas. Para essa, a inteligência natural será sempre necessária

É verdade que o conceito de multidisciplinaridade está associado atualmente às sociedades, enquanto associação de várias profissões na mesma estrutura empresarial.

Contudo, gostava de associar este conceito aos advogados numa vertente de social skills.

O advogado, além de executante e técnico jurídico, tem de ser um bom ouvinte, hábil comunicador e subtil doseador de emoções.

Da minha experiência profissional tenho observado que não basta o domínio das leis, doutrina ou jurisprudência, é essencial uma sensibilidade para a natureza humana, aliada a uma empatia que não vem nos livros, muito menos em Diário da República.

É inquestionável que a vertente técnica e de “bater tecla” é fundamental, contudo, não chega. Não chega porque não somos robôs. Não chega porque muitas vezes o cliente “aposta as fichas todas” em alguém/numa equipa que tem de lhe inspirar confiança, que tem de lhe garantir que a sua causa vai ser defendida como se fosse em causa própria.

E sim, é preciso ter cuidado com a defesa em causa própria, numa ótica de objetividade e discernimento. A “distância de segurança” é fundamental, e, neste caso, nunca estaria afetada.

Dessa forma, lançaria o seguinte desafio a quem recruta: além do necessário e tradicional curriculum vitae, podiam começar por perguntar se a pessoa “tem mundo”.

Ter mundo naquele sentido que não vem nos códigos, ter mundo naquele sentido que não se encontra na biblioteca da faculdade. Ter mundo no sentido de ter vivido determinadas experiências que nos permitem estar alinhados e em sintonia com os clientes.

Reforço, a vertente académica, técnica e operacional é essencial, mas isso já todos sabemos. Queria falar do que não é assim tão óbvio.

Na era da inteligência artificial há algumas profissões que têm os dias contados. A advocacia não é uma delas. Para essa, a inteligência natural será sempre necessária.

Nenhum cliente quer ser acompanhado por uma máquina que funciona segundo algoritmos. Quer ser acompanhado por um advogado “real” que o ouve, comunica com ele e é capaz de saber gerir as suas emoções. Inteligência natural sim, na sua dupla vertente técnica e emocional.

O que acham? A advocacia enquanto profissão está afetada pela era da inteligência artificial? Facilitada sim, afetada não. Os clientes não querem trabalhar com máquinas, mas sim com pessoas de carne e osso.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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