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Opinião

Vai celebrar o Camões

O plano inicial foi desenhado por um lírico; o plano real requer um trabalho épico

Em Maio de 2021, o Conselho de Ministros decidiu que era imprescindível comemorar os 500 anos do nascimento de Camões. O Governo nomeou então uma comissária e determinou a criação de uma Comissão de Honra pelo Presidente da República, de um Conselho Consultivo e de uma estrutura de missão. O programa das comemorações devia ser concebido e proposto ao Governo até Dezembro de 2022. Em Dezembro de 2022 não foi apresentado qualquer programa, uma vez que nenhuma comissão foi criada. Não havendo comissão, a comissária não tem o que comissariar, e organismos que não existem têm dificuldade em apresentar programas. Os ignorantes do costume talvez se apressem a criticar o Governo, não percebendo que este modo de comemorar o 500º aniversário de Camões revela, precisamente, um conhecimento profundo da obra do poeta. Alguém no Governo leu o soneto ‘O Dia Em Que Nasci Morra e Pereça’ e compreendeu que respeitar a vontade de Camões é evitar que o dia seja celebrado. “Não o queira jamais o tempo dar”, pede o poeta — e o Governo concede-lhe o desejo. Por outro lado, é óbvio que o Governo também teve em consideração que, se há fogos que ardem sem se ver e dores que desatinam sem doer, nada impede que comissões trabalhem sem existir.

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