As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril lembraram o que devemos à revolução democrática, mas também expuseram a polarização atual que até essa data parece contaminar. As redes sociais entretiveram-se numa semiótica do 25 de Abril: quem levava ou não o cravo posto; o significado de levar o cravo na mão em vez de o usar na lapela; e até quem usava cravos brancos em vez de cravos vermelhos. As imagens de há 50 anos mostram-nos cravos, vermelhos e brancos, usados de múltiplas formas. 50 anos depois, tudo assume um outro significado: os cravos servem para distinguir diferentes “versões” ou identidades do 25 de Abril. É a semiótica política do 25 de Abril. Não se discutem os cravos, mas o significado político que se lhes atribui. Para uns, quem não usa o cravo vermelho na lapela exprime uma reserva mental sobre o 25 de Abril (e os seus valores), a direita, que, no fundo, sempre recusou o 25 de Abril. Para outros, substituir o cravo vermelho pelo cravo branco ou transportá-lo na mão em vez de na lapela é uma forma de reclamar a pureza dos valores de Abril perante o que consideram ser a sua captura política por uma parte da esquerda.
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