O dia em que tudo mudou no Médio Oriente
Pela primeira vez nos últimos 250 anos, os persas intervieram numa guerra longe de casa e atacaram o Estado judaico que tentavam eliminar há décadas. Até hoje, fizeram-no com a ajuda de intermediários
Pela primeira vez nos últimos 250 anos, os persas intervieram numa guerra longe de casa e atacaram o Estado judaico que tentavam eliminar há décadas. Até hoje, fizeram-no com a ajuda de intermediários
O dia 14 de abril ficará para a história como o dia em que tudo mudou no Médio Oriente por diferentes razões. Pela primeira vez nos últimos 250 anos, os persas intervieram numa guerra longe de casa e atacaram o Estado judaico que tentavam eliminar há décadas. Até hoje, fizeram-no com a ajuda de intermediários. Por outro lado, no domingo de madrugada, em Telavive, quando se olhava para o céu, parecia uma visão particularmente bela ver as luzes que se sucediam, vindas do Oriente. Era difícil compreender que os 330 mísseis balísticos e os drones suicidas que atravessam os 2.000 quilómetros que separam o Irão de Israel estejam carregados de explosivos que podem causar um número de mortos sem precedentes.
Primeiro, foram interceptados quase sem causar vítimas sobre o território jordano, sírio e iraquiano por caças e sistemas anti-mísseis britânicos, americanos, franceses, jordanos e de outros países árabes que permanecem anónimos, para não se tornarem alvos iranianos.
À sua espera em Israel estavam aviões F35 e também os sistemas Iron Dome e Kela David, que interceptaram nos últimos seis meses a maioria dos 16.000 foguetes disparados pelo Hamas e pela Jihad Islâmica contra Israel.
Para travar os mísseis balísticos, Israel utilizou o mais sofisticado sistema anti-míssil. A versão 3 do míssil "Arrow" (jetz) interceptou os mísseis iranianos no espaço, fora da atmosfera.
O resultado surpreendeu todos os analistas militares, uma vez que 99% dos mísseis e drones iranianos foram interceptados sem causar vítimas. Um deles conseguiu atingir parte da base da força aérea israelita de Nevatim, no deserto do Negev, que voltou a estar operacional minutos depois.
Uma menina beduína de sete anos foi a única vítima do ataque, gravemente ferida por estilhaços de um dos drones.
Ontem, na capital dos Emirados Árabes Unidos, foi transmitido um filme que acusava: "O Irão lançou mísseis balísticos sobre os locais sagrados de Jerusalém. Vejam os sistemas israelitas a salvar a Mesquita de Al-Aqsa. O Irão é uma ameaça global". Nas redes sociais, há quem troce do ataque iraniano, retratando plataformas de mísseis balísticos a lançar pepinos. O primeiro-ministro Benyamin Netanyahu avisou repetidamente que Israel responderia a qualquer ataque iraniano. No entanto, numa conversa telefónica com o Presidente Joe Biden,este que apoia Israel disse a Netanyahu em termos inequívocos: NÃO. (DON’T)
Os Estados Unidos não participarão no contra-ataque israelita e recomendam que Israel dê o duelo por terminado. O líder israelita encontra-se no mesmo dilema que o seu antecessor do Likud, Itzhak Shamir, que na primeira Guerra do Golfo, em 1991, decidiu não reagir aos 42 mísseis lançados pelo Iraque, aprovando a contenção e mantendo unida a coligação contra Saddam Hussein. Bibi está a enfrentar o dilema de Shamir.
Após várias horas de discussão no gabinete de guerra israelita, um porta-voz sublinhou que qualquer reação contra o Irão "será coordenada com os nossos aliados".
O centrista Benny Gantz, antigo ministro da defesa e membro do gabinete de guerra da unidade nacional (e o principal candidato a primeiro-ministro segundo as sondagens) declarou: "O Irão colidiu com o nosso poder, vamos cobrar o preço ao Irão no momento certo para nós".
O grande perigo é uma escalada para uma guerra regional com contornos cada vez mais globais. A defesa de segunda-feira de manhã custou a Israel mais de mil milhões de dólares. O orçamento militar total de Israel em 2023 aproxima-se dos 20 mil milhões. Por isso, mais do que nunca, Israel precisa do apoio dos EUA ou, como lhe chama o Ministério da Defesa, "do colete à prova de bala" fornecido por Biden. Por outro lado, Israel quer reforçar a coligação regional que parece ter sido reavivada com os países ocidentais e árabes.
No domingo no Irão, a moeda local, o real, perdeu 8% em 24 horas. A bolsa caiu 7%. Nas bombas de gasolina, há longas filas de espera e um grande receio de um possível ataque israelo-americano.
Na Praça da Palestina, em Teerão, há uma ampulheta que marca o tempo que falta para o fim do Estado de Israel. Os israelitas continuam determinados a mostrar ao governo do líder supremo, Ali Khamenei, que está completamente errado.
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