A fórmula de delegar a educação sexual em centenas de categorias de pornografia é capaz de não estar a dar bons resultados
Hesitei. Durante anos, escrevi textos, alguns deles aqui, a desdramatizar o consumo de pornografia, essa amiga de sempre. Lembro-me bem da minha primeira “Gina”, que pertencia a um matulão de 16 anos e metia freiras (as freiras estavam na moda), teria eu uns 13; de ter entrado à socapa para ver um bocado de um filme porno no Cine Ferreirense e ter ficado atónito e maravilhado (admito), escondido lá atrás; de ter glorificado a tecnologia quando tive as minhas primeiras VHS já com uns 18. E de ter acompanhado como o porno desenvolveu a internet. Fica estabelecido: não sou moralista. Mas li isto algures: dentro de gerações, olharão para esta época e não compreenderão como foi possível permitir o acesso aberto e ilimitado a todo e qualquer consumo de milhares de horas de todo o tipo de pornografia a crianças e adolescentes nos seus smartphones, ou no de amigos, ou num qualquer computador. Também leio que as novas gerações perderam interesse no “sexo real”; ou se descobriu uma crise de disfunção erétil nos rapazes de 18-25 anos que dependem de Viagra para terem relações por terem medo de “não estar à altura” ou por acharem aquilo “aborrecido”. Mas não vejo que se faça uma correlação óbvia com o consumo de porno.
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