Entrar neste mundo tem sido como estar preso a uma bigorna que de repente se transforma num par de asas
Abril é o mês da consciencialização para a neurodiversidade, sobretudo para o espectro do autismo. É a minha casa: a primogénita tem dislexia e défice de atenção, a benjamim é autista e eu estou quase de certeza no vórtice do espectro. Numa linguagem antiga, eu e a benjamim somos dois aspie (Asperger) ou autistas de suporte nível 1, como agora se diz na linguagem higienizada. Isto quer dizer que somos ninjas entre dois mundos, somos da neurodiversidade, sim, mas, com muito esforço, conseguimos interagir com os neurotípicos. E, como ela começa a ter plena autoconsciência do que é e do que custa ser autista num mundo neurotípico que é absurdamente rígido (a rigidez, lamento, é muito mais vossa do que nossa), começa aqui uma nova fase da minha vida adulta como pai e cidadão e até como escritor ou intelectual. Recusei sempre clubes, partidos e causas, mas esta é a minha causa e — a partir deste momento — tudo farei para lhe dar visibilidade e apoio. Porque não chega criar um dia azul na cidade ou uma hora azul nos centros comerciais; é preciso uma banda sonora azul sempre a tocar na sociedade como um todo — porque nós, os neurodivergentes, somos muito mais do que se pensa. Há muita gente desse lado a precisar de um diagnóstico que explica e torna mais fácil a vidinha.
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