Tenho saudades do tempo em que não tinha fé, a minha vida era mais fácil, tinha mais paz mental, não tinha esta inquietude contra o mundo e sobretudo contra Ele
Páscoa. “Ben-Hur”. Deus. Recomeçar. Fé. Tenho saudades do tempo em que não tinha fé, a minha vida era mais fácil, tinha mais paz mental, não tinha esta inquietude contra o mundo e sobretudo contra Ele. Aliás, tenho que confessar que tenho passado os últimos tempos a insultá-Lo como se eu fosse uma varina do Bolhão e Ele um burguesito snobe. Sim, às vezes, sinto que Deus é um enorme e insuportável snobe refastelado no divã do Olimpo, dando risadinhas à Nero perante a tragédia cá em baixo. Porque há situações que são mesmo inaceitáveis; pormenores que nos indicam que, se calhar, o mundo não foi bem pensado e que Ele ou é omnisciente ou é omnipotente, e não as duas coisas em simultâneo. Não, não estou a falar do mal que um ser humano pode infligir a outro ser humano; o mal enquanto escolha humana não põe em causa a minha fé num Deus que nos criou com livre arbítrio; no leque de escolha do livre arbítrio, as diferentes tonalidades da crueldade estão lá à nossa disposição. E, caramba!, como nós gostamos de nos lambuzar nesse menu. Não, a minha revolta não está no mal humano; está no acaso; está na arbitrariedade que é uma doença que temos logo à nascença, ou num acidente sem sentido e sem culpados.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt