Opinião

Inovação, Transição Digital e Sustentabilidade: Os Pilares da Competitividade das PME

Inovação, Transição Digital e Sustentabilidade: Os Pilares da Competitividade das PME

João de Castro Guimarães

Diretor-Executivo, GS1 Portugal

Em muitas micro e PME falta formação. Falta sensibilização. Falta partilha de evidências

Reconhecer que a inovação e a transição digital são condições de competitividade é consensual. Acrescentar a este binómio a sustentabilidade e assumir estas três alavancas de o target como igualmente relevantes para a competitividade das empresas, ainda é, em algumas circunstâncias, arrojado.

No entanto, esta é a orientação estratégica que decorre de enquadramentos legislativos e recomendações internacionais. Nesse sentido convergem, por exemplo, as recém-adotadas normas emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), criado pelos trustees da International Financial Reporting Standards (IFRS) Foundation, na sequência da COP26, em 2021, em Glasgow. As duas primeiras normas emitidas pela IFRS Foundation, em 2023, preveem o reporte – voluntário - de informação sobre a sustentabilidade. É um sinal incontornável.

No mesmo sentido se dirige também a Diretiva 2022/2464, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de dezembro de 2022, relativa ao reporte corporativo de sustentabilidade, um dos enquadramentos de operacionalização dos princípios subjacentes ao Pacto Ecológico Europeu, adotado em 2019, e que consubstancia um conjunto de iniciativas estratégicas com vista à transição ecológica da União Europeia. O objetivo último destes enquadramentos é alcançar uma economia moderna e competitiva assente na neutralidade carbónica até 2050.

Muitas são as organizações que já adotam esta visão, no entanto, reconhecemos que a consagração da inovação, sustentabilidade e transição digital como as três alavancas estratégicas, integradas e indissociáveis, do crescimento e da competitividade não é ainda realidade para muitas micro e PME. Sobretudo o caráter imperativo dessa articulação integrada e sinérgica das três. Falta formação. Falta sensibilização. Falta partilha de evidências.

Em termos práticos, na inovação e transição digital, as micro e PME têm em curso e constatam os benefícios do processo de substituição do analógico pelo tecnológico, pelo digital, para dar um exemplo. Reconhecem a importância do investimento na antecipação ou resposta a tendências que quase sempre obrigam a alguma inovação ou disrupção nas práticas, processos ou tecnologias.

A sustentabilidade enquanto condição de competitividade talvez seja, das três alavancas transformacionais, a que carece de um reforço de sensibilização. Nem todas as empresas procuram ainda perspetivar o seu futuro, a competitividade e viabilidade do seu negócio, à luz da sustentabilidade. Nem todas estruturam as suas projeções definindo como objetivo um impacto nas pessoas e no ambiente cada vez mais positivo e procurando que a gestão se norteie cada vez mais por princípios éticos. As dimensões ambiental, social e de governance (ESG) da sustentabilidade ainda não são matriciais na estratégia das organizações, sobretudo das micro e PME.

As empresas que não perspetivem a sua atividade também com esta lente comprometem o seu desempenho e, assim, a sua competitividade, atual e futura.

É, no entanto, uma opção de gestão. Lideranças que não estão recetivas para operarem esta transição serão resistentes. Lideranças que não estejam informadas sobre os benefícios desta abordagem não identificarão motivos para mudar. Se as grandes empresas que ainda não o fizeram têm necessariamente mais recursos e recursos genericamente capacitados para fazerem o ajuste, as micro e PME deverão ativar os recursos de que dispõem para investirem na formação das suas estruturas de liderança para que a mudança se faça de modo informado e para que ocorra depois este realinhamento estratégico, na certeza de que disso depende a sua competitividade e, em consequência, viabilidade futura.

Tendo em conta que Portugal continua a ter uma das taxas de crescimento do PIB per capita mais baixas da Europa e o tecido empresarial português é composto maioritariamente por micro e PME, é deste público-alvo que depende o desempenho e a competitividade da economia portuguesa.

Se é conhecida a matriz de crescimento – inovação, sustentabilidade e transição digital – para a competitividade, se se reconhece que a formação das lideranças é fator crítico de mudança, apetece perguntar “Ai Portugal, Portugal, de que é que estás à espera?”


Este artigo foi desenvolvido no âmbito da iniciativa Nova SBE VOICE Leadership

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