Os primeiros anos da corrida espacial foram principalmente uma competição entre superpotências marcadas pela rivalidade entre blocos e por interesses de segurança nacional. O custo de acesso ao espaço revelou-se durante muito tempo inalcançável, condicionando os as atividades mais comerciais.
Só recentemente assistimos a uma aceleração significativa na descida da curva de custos: os custos de lançamento caíram 95% (com outra redução significativa esperada nos próximos anos), graças à reutilização, à melhoria da engenharia e ao aumento da procura. Há fortes evidências que o sector terá uma nova desaceleração da curva de custos à medida que o fabrico digital e a escala de produção aumentam, tirando também partido de tecnologias que podem ter comunalidade elevada com sectores também com forte evolução e crescimento como a condução autónoma e as tecnologias de comunicação.
Por sua vez, a crescente dependência dos sistemas espaciais em relação ao software está a reduzir a dimensão física dos ativos espaciais. Satélites menores significam menos peso em órbita e simultaneamente maior capacidade. Há outras manifestações que densificam e amplificam o impacto do sector. Os fabricantes de telemóveis já estão a modificar os smartphones para interagirem com satélites; em breve será possível aceder à Internet global de qualquer local do planeta. O sector terá um impacto global incontornável.
Tem havido uma evolução muito significativa do sector aeroespacial nacional na última década, reiterado e substanciado com um conjunto de projetos estruturantes, financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência, com um investimento próximo dos 245 M€ até 2025.
Adicionalmente, uma nova geração de projetos de ensino em engenharia aeroespacial foi lançada com o propósito de possibilitar o crescimento do sector, nomeadamente no acesso a capital humano altamente qualificado. Fator que a indústria necessita para tornar os investimentos em curso reprodutivos e aproveitar a nova conjuntura mundial para a afirmação de Portugal no panorama aeroespacial internacional. O Sector Aeroespacial Global tem manifestado um crescimento robusto e projeta atingir um valor agregado de 775 mil milhões de euros em 2028, incluindo os mercados de Upstream e Downstream.
Para que haja uma valorização efetiva, no mercado global, dos investimentos em desenvolvimento de tecnologia são necessárias ações destemidas de política industrial. Em primeiro lugar mantendo o investimento estruturado em projetos de desenvolvimento de tecnologia para que o momentum e processos já em curso se consolidem. Em segundo lugar, apoiando os projetos de ensino com foco em perfis relevantes para o sector aeroespacial, garantindo uma base de capital humano que será imprescindível para a criação de valor. Em terceiro, encetar uma política de consolidação empresarial que se foque na transformação de SMEs em Mid Caps a partir da atuação do Banco Português de Fomento, criando maiores possibilidades de competir globalmente no atual e futuro contexto europeu e da NATO.
Em quarto lugar, utilizar os instrumentos de aquisição pública de inovação de forma efetiva, possibilitando que as tecnologias aeroespaciais relevantes para a estratégia nacional sejam colocadas em serviço rapidamente, utilizando as necessidades nacionais como base de demonstração para o mercado global. Por fim, apoiar o desenvolvimento de um centro de investigação internacional orientado às tecnologias de plataforma e integração, que permitirá no futuro a aceleração na assimilação de tecnologias de base desenvolvidas nacionalmente e uma base de formação pós-graduada no contexto aeroespacial.
As transformações estruturais do sector aeroespacial tornam-no mais concorrencial e mais aberto a novos atores e abrem a possibilidade para que Portugal tenha uma atividade relevante, tecnologicamente avançada e de enorme valor acrescentado. É um sector a entrar na short list de sectores estratégicos.