Custa-me acreditar que 700 mil a um milhão de portugueses sejam extremistas, prontos a tomar a República e instituir o homem de Mem Martins como caudilho
Como fenómeno, o Chega é a certeza da surpresa. No Congresso, o seu parque de estacionamento alternava entre Mercedes prateados, Jaguares verde inglês e pequenos Citroëns com matrículas dos anos 90, de cor baça e chapa amassada pelo tempo. Nos confrontos televisivos, com uma expectativa mais elevada do que a de 2022, André Ventura preserva alguns excessos (“Frouxo!”; “Vocês é que mataram pessoas!”), mas não reproduz o vandalismo verbal a que acostumou o plenário nem insiste na agenda inconstitucional de outras campanhas. Pelo contrário, Ventura já não quer extinguir ministérios; quer ministrar tudo a todos. Ao entrevistá-lo, a transição de libertário para distribuidor ficou mais do que explícita. Ele assume-a. O seu programa, no qual o argentino Milei teria alegremente votado em 2019, poderia ser uma homenagem à senhora Kirchner em 2024. “O Chega está mais próximo das pessoas”, justifica Ventura. E as pessoas estão mais próximas do Chega, comprovam as sondagens.
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