Exclusivo

Opinião

A República caiu à rua

Cá fora, porém, vive uma maioria silenciosa de trabalhadores que não tem poder reivindicativo. Não fazem greves nem se autodiagnosticam com baixas às segundas e sextas ou vésperas de feriados. Talvez um dia eles consigam também sair à rua, só para que se saiba que existem

Pelo que tenho lido e ouvido, toda a gente — começando pelo Presidente da República, passando por todos os partidos e acabando em todos os comentadores — não tem dúvidas em apoiar a “justa” luta dos polícias. Eu devo ser então a excepção: não só não alcanço a justiça dela (fora o facto de ganharem pouco, como todos os portugueses), como não consigo ter qualquer simpatia por formas de luta que passam pela deserção em massa do cumprimento dos deveres através de expedientes que não são dignos de quem veste farda e vão até ameaças de boicotar a realização de eleições ou outras “acções desesperadas” — tudo depois, julgam eles, imunizado pelas cantorias do hino nacional, como se esses súbitos ataques colectivos de patriotismo, tal como os súbitos ataques colectivos de indisposições gástricas, os absolvessem da grosseira violação dos deveres do cargo. Há ocasiões em que sinto em mim um instinto anarquista, que desperta sempre que me vejo confrontado com os abusos ou o uso irracional da autoridade por parte da polícia (felizmente, devo dizer, ocasiões cada vez mais raras). Mas agora, vendo os homens armados a quem cabe vigiar pela nossa segurança em atitudes de rebelião pública contra a lei e o Estado de direito, constato, paradoxalmente, que estamos desarmados para restabelecer a ordem contra a anarquia de quem a devia manter. E pergunto-me que autoridade terão eles de futuro para imporem a ordem pública.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate