Opinião

Houthis: os fantoches do Irão

Houthis: os fantoches do Irão

Luís Correia

Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Wroclaw, Polónia

A causa Palestiniana é extremamente popular entre as nações árabes e tem valor progressista muito grande. Os ataques a navios – de origem Ocidental e também israelita – significam uma possível expansão de apoio por todo o Iémen e por todo o mundo árabe, incluindo ainda uma sabotagem à normalização israelita

Mas afinal, quem são os rebeldes Houthis do Iémen?

Os rebeldes Houthis são uma das principais fações que controlam o território iemenita no meio de uma guerra civil sem fim à vista. Controlam nomeadamente a costa ocidental do país – incluindo a sua capital, Sanaá –, dando-lhes acesso direto ao Mar Vermelho e à possibilidade de comprometer as economias Ocidentais.

Recuemos então à década de 1990, quando o movimento começou a criar as suas raízes: Hussein al-Houthi deu início à “Believing Youth” (Juventude Crente), um movimento de renascimento religioso centrado numa subseita do Islão Xiita – o Zaidismo.

Com o passar dos anos, muitos dos muçulmanos crentes desta subseita sentiam que devido a diversos fatores, o país estava a ser levado para um caminho que não ia ao encontro das suas ideias e das suas crenças:

  1. Os Salafistas Árabes tentavam reprimir a herança cultural e religiosa do Zaidismo
  2. Crescia o sentimento de corrupção generalizada no governo iemenita
  3. Má gestão do governo iemenita durante a década de 2000

A caminho do poder

As tensões acabaram por aumentar em 2003, quando Saleh – o Presidente iemenita – apoiou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América (EUA), uma decisão que foi contra muitos dos ideais dos iemenitas.

Aproveitando esta oportunidade, al-Houthi acabou por levar a cabo uma mão cheia de insurgências contra o governo do Iémen, nomeadamente entre 2004 e 2010 – apesar da sua morte pelas forças iemenitas em 2004, o movimento continuou a crescer e assumiu o controlo da província de Saada, a norte do Iémen.

Em 2011, durante a Primavera Árabe, a população decidiu sair à rua e colocar um ponto final no reinado do Presidente Ali Abdullah Saleh que durava há mais de três décadas.

No entanto, o que se seguiu não foi melhor: após a renúncia de Saleh, a Arábia Saudita apoiou Abdrabbuh Mansur Hadi como novo líder iemenita.

Os Houthis não gostaram e, mais uma vez, lançaram uma forte campanha contra o novo governo, levando a uma guerra civil que ainda nos dias de hoje tem lugar.

Consequência do apoio Árabe a Mansur Hadi foi a aliança dos Houthis ao Irão, o seu principal apoiante desde então.

Houthis: a galinha dos ovos de ouro do Irão

O apoio do Irão aos Houthis começou em meados de 2014, quando a guerra civil se intensificava e a rivalidade do Irão com a Arábia Saudita crescia, através de:

  • Fornecimento de armamento
  • Fornecimento de tecnologia
  • Fornecimento de minas marítimas
  • Fornecimento de mísseis balísticos e de cruzeiro
  • Fornecimento de veículos aéreos não tripulados

Desde então que as ameaças têm sido constantes e a instabilidade do país tem feito do Iémen um dos países mais pobres e mais problemáticos do planeta.

O Irão vê nos Houthis uma aliança (quase) perfeita – a rebeldia do grupo permite criar instabilidade numa das regiões mais importantes do mundo em termos económicos e comerciais: o Mar Vermelho.

Mas, afinal, qual é a importância do Mar Vermelho e porquê agora? O que está em jogo?

O Mar Vermelho é uma das rotas comerciais marítimas mais importantes do mundo, ligando o estreito de Bab-el-Mandeb, na costa do Iémen, ao Canal do Suez, no norte do Egipto.

Aproximadamente 15% do comércio global e 30% do tráfego marítimo global de contentores passa por este estreito, pois é a única via navegável que permite uma passagem rápida e direta entre a Ásia e a Europa.

A rota dos navios pelo Cabo da Boa Esperança seria uma alternativa, mas um murro no estômago do Ocidente por parte dos Houthis e dos seus “patrões”, já que a viagem em torno do Continente Africano significaria um aumento na sua duração, reduzindo a capacidade de transporte e aumentando os custos.

Os ataques recentes a navios comerciais por parte dos rebeldes iemenitas estão interligados ao conflito Hamas-Israel e, embora possam não representar uma ameaça militar significativa para Israel, levantaram uma onda de preocupações – nomeadamente por parte do Ocidente – sobre o potencial impacto na economia mundial.

A causa Palestiniana é extremamente popular entre as nações árabes e tem valor progressista muito grande. Os ataques a navios – de origem Ocidental e também israelita – significam uma possível expansão de apoio por todo o Iémen e por todo o mundo árabe, incluindo ainda uma sabotagem à normalização israelita.

O futuro? O alinhamento cego dos Houthis pelo Irão e as suas crenças ideológicas e teológicas atrapalham uma governação eficaz e qualquer diálogo para a paz.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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