Liderança
Os colaboradores anseiam por sentir que são bons no que fazem e é fundamental que as organizações permitam esse crescimento de talentos. O segredo? Ter as pessoas certas a liderar
Chairman do Grupo Bernardo da Costa | Presidente do Conselho Geral da AEMinho
Os colaboradores anseiam por sentir que são bons no que fazem e é fundamental que as organizações permitam esse crescimento de talentos. O segredo? Ter as pessoas certas a liderar
Contratemos pessoas e não máquinas. Lideremos pessoas e não máquinas.
Vivemos uma realidade em que os colaboradores não se sentem completamente preenchidos relativamente ao local de trabalho, ao cargo que ocupam, ou à relevância que atribuem ao seu papel dentro da empresa onde trabalham.
O que leva - não só por esse motivo - a que estejamos a perder os nossos jovens, as nossas pessoas, a força principal das empresas.
Em 2024, nas empresas portuguesas, é fundamental dar prioridade à implementação de uma cultura organizacional com inteligência emocional.
Acredito que a revolução está a chegar - se é que ainda não chegou - e precisamos de estar preparados para corresponder às suas exigências.
O trabalho preenche uma parte significativa das nossas vidas, e a única maneira de promover o bem-estar é não descurar a importância da valorização do contributo de cada um no seu ambiente laboral.
Como?
Não é fácil, mas é simples: cultivar uma cultura laboral em que cada um sinta que não esta a desperdiçar a sua vocação, tempo e energia. Acreditar nas pessoas que contratamos e, sobretudo, reconhecer os seus talentos e saber fazer o seu melhor enquadramento na organização, para que cada uma veja o seu desempenho desenvolver-se em direção à excelência e ao respetivo reconhecimento. Afinal, como sublinhou Albert Einstein, "Todos são um gênio. Mas se julgares um peixe pela sua habilidade de subir a uma árvore, viverá toda a sua vida acreditando que é estúpido".
Os colaboradores anseiam por sentir que são bons no que fazem e é fundamental que as organizações permitam esse crescimento de talentos.
O segredo?
Ter as pessoas certas a liderar.
A figura-chave neste contexto são as lideranças das empresas, que perdem talentos pela falta de atribuição de propósito. Mais do que um chefe, as pessoas precisam de líderes capazes de despertar nelas a autenticidade e o entusiasmo pela profissão.
Nos últimos anos, como temos jovens cada vez mais qualificados, demos por verdadeira a ideia que um trabalho das 9-18h é aborrecido e que faz estes jovens acreditar na crença que estamos a perder os melhores anos da sua vida. Isto leva a que uma parte muito significativa tente empreender por sua conta e risco. E não está mal, mas acredito que isto acontece porque a maior parte das lideranças não promove o Intra empreendedorismo, tão fundamental para o desenvolvimento e crescimento das empresas.
Engana-se quem pensa que a verdadeira recompensa reside única e exclusivamente no salário; é uma falácia. Uma importante componente da satisfação laboral é o sentimento de que se está a realizar algo significativo, a contribuir para um propósito maior.
Realço, que não pode ser descurado o papel absolutamente essencial do salário, da progressão na carreira e dos benefícios que efetivamente contribuem para uma melhor qualidade de vida.
O desempenho da liderança pode ser substancialmente melhorado através da comunicação, que nele assume um papel fundamental. Promover a comunicação entre departamentos, gerações e cargos é essencial para o sucesso de qualquer empresa.
Em Portugal, ao longo de muitos anos, o receio de expressar pensamentos foi um obstáculo significativo, frequentemente motivado pelo medo de possíveis consequências.
É imperativo revolucionar estas dinâmica e implementar lideranças seguras, tranquilas, empáticas e autênticas. Eliminar as barreiras hierárquicas instituídas pela tradição e incentivar a transparência, especialmente no que se refere à liberdade de expressar pensamentos, sempre com respeito pela liberdade dos outros.
Lideranças seguras implicam a criação de um ambiente onde os colaboradores se sintam à vontade para expressar ideias, preocupações e sugestões sem receio de repercussões negativas. A liberdade de pensar, mas mais do que isso, a liberdade de falar, é necessária em qualquer organização.
Não esquecer que, para isso, é impreterível uma cultura de confiança e estabilidade, fundamental para construir relações saudáveis e produtivas entre todos e entre a crença de propósito de vida de cada pessoa.
Não há dúvida que é preciso percorrer um longo caminho em Portugal na área de liderança e também na contratação.
Isso implica ir além dos currículos, considerando o percurso social, valores e forma de encarar a vida e capacidade de análise e interação com o meio envolvente.
Quando alguém escolhe uma empresa, uma das principais perguntas é: o que é que a empresa deseja de mim, espera de mim?
Todos têm a crença de quererem sentir-se úteis e correspondidos, desejando expressar os seus talentos na empresa. Assim, ao tomar decisões estratégicas, é fundamental considerar não apenas os resultados tangíveis, mas também o impacto nas pessoas. O paradigma do mercado de trabalho, tal e qual como o conhecíamos mudou, hoje as pessoas também escolhem as empresas!
Colocar as pessoas certas nos lugares certos, lideranças empáticas e um ambiente que promova o desenvolvimento individual, contribui para um progresso disruptivo, sustentável e de atração de talentos.
As lideranças intermédias precisam de cultivar um ambiente de valorização da autenticidade de cada pessoa, derivando de uma sólida cultura de “empowerment”.
Como refere um estudo dos Serviços Analíticos da Harvard Business Review, intitulado "The EI Advantage: Driving Innovation and Business Success through the Power of Emotional Intelligence", as culturas empresariais com déficit de inteligência emocional tornam-se um risco no cenário de mudanças atuais que vivemos no mundo. Ficam desatualizadas e para trás.
O motivo: não sabem liderar. Só comandar.
É necessário perceber e promover os talentos internos e, sobretudo, que essas competências sejam reconhecidas pelas lideranças intermédias - perceber que, entre oito pessoas licenciadas em gestão, uma tem mais aptidão para o cliente, outra para a criatividade e outra para a logística. Atrás de cada licenciatura está um talento.
É crucial implementar uma cultura rotulada como "nice to have you".
Por isso, olhemos sempre com uma postura de:
"Um líder tem como missão criar um novo líder, não um colaborador".
Assim, é imperativo reconhecer nas empresas que a formação de líderes não é uma tarefa exclusiva dos CEO´s, mas uma responsabilidade partilhada por todos os que desempenham funções de liderança.
Temos impacto nas pessoas que lideramos. Um impacto muito mais amplo do que achamos.
Cada líder, independentemente do nível hierárquico, tem a capacidade de influenciar positivamente quem o rodeia, promovendo o crescimento e sobretudo, valorizando genuinamente o potencial cada pessoa.
Precisamos cada vez mais de pessoas que queiram ser líderes por vocação e não por posição.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt