Com quase 50% da população abaixo dos 18 anos, a Faixa de Gaza é uma prisão a céu aberto. Palco de inúmeras atrocidades ao longo de décadas, o ataque do Hamas contra Israel veio tornar tudo ainda pior para os palestinianos.
O Direito à defesa vs. a sede de vingança de Benjamin Netanyahu contra os terroristas do Hamas é discutivelmente complexa: crianças, mulheres e idosos mortos em Gaza; prédios residenciais, hospitais, escolas, mesquitas e igrejas reduzidos a escombros; ambulâncias e veículos de assistência médica alvo de ataques; fornecimento de água, eletricidade, comida e combustível cortados... e Gaza a viver na escuridão.
Fica perfeitamente claro que Netanyahu está empenhadíssimo num genocídio do povo palestiniano, sejam as mortes colaterais ou não.
Apoiado pelas massas, de forma direta ou indireta ou de cumplicidade através do silêncio, o Estado israelita “afrouxou” as suas regras militares e deu luz verde aos soldados para abrir fogo sobre Gaza, eliminando um povo há muito oprimido, não só pelo Hamas, mas também por Israel.
Será que alguma vez na História vimos um caso de genocídio apoiado por tantos intervenientes ocidentais?
A verdade é que, para que o genocídio aconteça, são necessários dois elementos críticos: as capacidades infraestruturais e materiais para se cometer o genocídio e a capacidade de ocultar o genocídio em si, dando-lhe um nome diferente. O Ocidente não participa em ambos?
Vamos a factos:
- EUA – envio de dois porta aviões para a região com uma mensagem bem clara para os apoiantes dos palestinianos: “Não se metam!”
- Reino Unido – envio de navios de guerra, apoiando a ameaça ocidental ao povo palestiniano
- Empresas e Instituições Económicas – apoio financeiro a Israel e incentivos financeiros ao Egipto para acolher os palestinianos e proibi-los de reentrar em Gaza
- Instituições Políticas, Mediáticas, Sociais e Culturais Ocidentais – mobilização para ocultar e dissimular o genocídio, apresentando-o como uma violência justa por parte dos israelitas em resposta aos ataques do Hamas
- Poder Político Ocidental – proibição, em alguns países, de manifestações pró-palestina, combinadas com campanhas de assédio e medidas punitivas
- Comunicação Social Ocidental – envio de mensagens contínuas sobre a não-responsabilização de Israel pela perda de vidas humanas inocentes, tentando lavar as mãos do genocídio.
Os apoios financeiros e militares a Israel não começaram a 7 de outubro. São anos de fornecimento de ajuda que permitiu a Israel desenvolver infraestruturas para, estrategicamente, levar a cabo operações como “eliminar o Hamas”.
Falamos de um golpe de teatro para esconder o que realmente significa: genocídio palestiniano e limpeza étnica, mobilizando ainda o Ocidente sob o pretexto de proteger a “civilização” da “barbárie”.
O que quer, afinal, o Hamas?
Desde 2007 que o Hamas, grupo palestiniano que controla a Faixa de Gaza, jura destruir Israel e transformá-lo num Estado Islâmico, contando com o apoio do Irão através de financiamentos, armas e treino militar.
A resposta de Israel ao longo dos anos tem sido contínua: desde o bloqueio à Faixa de Gaza juntamente com o Egipto, até aos ataques aéreos e terrestres, apoiando-se sucessivamente em países como os EUA, Reino Unido e alguns Estados-membros da União Europeia.
É importante referir que o Hamas não representa o povo palestiniano, oprimido durante anos. No entanto, nunca se conseguiram resolver algumas questões entre israelitas e palestinianos, apesar das tentativas de acordo.
Quais são os principais problemas?
- Indefinição relativamente aos refugiados palestinianos: o que lhes deveria acontecer?
- Deverão os colonatos judaicos na Cisjordânia ocupada permanecer ou ser removidos?
- Jerusalém: deve ser partilhada, dividida ou ficar para um dos lados?
- Deverá um Estado Palestiniano ser criado ao lado de Israel?
Os atos do Hamas são indesculpáveis, indefensáveis e irresponsáveis.
Poderíamos até, de alguma forma, compreender que as décadas de opressão de dois milhões de pessoas possam ter levado a uma escalada violenta, que a arrogância do “establishment” israelita tenha sido mais uma acha para a fogueira, mas nada justifica a morte indiscriminada de inocentes. Nem em Israel nem na Palestina.
O silêncio continua
O mundo ocidental tem plena noção da realidade:
- Israel apoia os colonos na expulsão dos palestinianos das suas casas e das suas terras
- Gaza é uma prisão a céu aberto
- O povo palestiniano vive em condições sub-humanas há décadas
No entanto, o mesmo Ocidente que sabe tudo isto, foi o que expulsou os judeus da Europa e acolheu os nazis após o holocausto. Tudo em nome de interesses nacionais e estratégicos.
Portanto, é uma ilusão esperar uma resposta moral à opressão do povo palestiniano que dura há décadas.