O problema das urgências hospitalares em Portugal tem-se vindo a arrastar e agravar ao longo dos anos e a solução tem estado sempre disponível, aguardando a necessária visão e coragem para ser implementada.
É importante que a reforma das urgências hospitalares garanta que os cidadãos têm acesso aos cuidados de saúde, em tempo útil, quando deles necessitam. Deve ser esse o principal desígnio do SNS em Portugal ou em qualquer parte do mundo.
Durante a pandemia de covid-19, tivemos oportunidade de testar o modelo de acesso aos cuidados de saúde e de resposta imediata com o SNS 24, tendo sido um tremendo sucesso. Conseguiu-se proceder a um aumento da capacidade de resposta de cerca de 7.000 chamadas por dia para mais de 100.000, usando a capacidade técnica instalada e todos os recursos disponíveis, incluindo o papel muito importante que os estudantes de medicina e enfermagem, devidamente treinados, tiveram neste âmbito, numa articulação entre o Algarve Biomedical Center, a Altice e a SPMS.
Após a pandemia a procura do SNS teve uma diminuição significativa, reduzindo-se os recursos utilizados. O modelo funcionou para resolver os problemas das pessoas, possuindo capacidade instalada e não utilizada na atualidade.
É importante aprendermos com os modelos testados e que funcionam, garantindo acesso aos doentes quando estes necessitam.
A reforma das urgências hospitalares deverá desta forma implicar:
- O acesso dos utentes às urgências deverá ser realizado através da linha SNS 24, para as situações não emergentes e para o 112, nas situações emergentes;
- A linha SNS 24 atuará de seguida e orientará os doentes da seguinte forma:
- Nas situações emergentes passa a chamada para o 112;
- Nas situações urgentes sem necessidade de avaliação imediata nas urgências hospitalares, marca uma consulta no próprio dia ou dias seguintes nos cuidados de saúde primários;
- Nas situações urgentes com necessidade de avaliação em urgência hospitalar, orienta o doente para a urgência hospitalar
- A linha 112 atuará da seguinte forma:
- Nas situações emergentes transporta o doente para a urgência hospitalar;
- Nas situações não emergentes transfere a chamada para o SNS 24.
- O acesso às urgências hospitalares poderá ainda ser efetuado através de transferência dos cuidados de saúde primários ou de outras unidades hospitalares.
Esta forma de orientação dos doentes garante um acesso atempado, organizado e adequado a todas as situações, evitando as longas esperas das urgências hospitalares e garantindo o acesso adequado a todos.
Estamos desta forma perante um sistema em que o acesso direto dos doentes às urgências hospitalares deixa de acontecer, mas paradoxalmente o acesso e o tratamento adequado e atempado sofrerão uma melhoria substancial.
Recentemente verifiquei que a Direção Executiva do SNS decidiu avançar com este sistema para as urgências, após o ter testado numa região, o que se saúda.
Esta sim, é a maior reforma dos cuidados de saúde em Portugal, possuindo pontos muito fortes a apoiar a sua implementação imediata:
- Evita tempos de espera exagerados nas urgências hospitalares;
- Organiza os doentes, recorrendo a profissionais habilitados, logo desde a entrada do sistema;
- Minimiza as deslocações desnecessárias dos utentes;
- Garante tratamento atempado a todos, sendo o local dependente da gravidade da situação;
- Utiliza a capacidade existente da Linha SNS 24 e restantes SNS;
- Reforça a importância da Medicina Geral e Familiar na orientação das situações clínicas dos seus utentes;
- Diminui significativamente a necessidade de recursos humanos diferenciados hospitalares, contribuindo para que se possa melhorar o tratamento das situações eletivas, o que evitará também novas urgências;
O ponto crítico será a garantia da existência de agendas dos cuidados de saúde primários para dar resposta a todos os utentes referenciados, em tempo útil, sendo que também aí, o que se ganha em organização de agendas e com as medidas já tomadas de automatização de procedimentos administrativos que até aqui eram da Medicina geral e Familiar (baixas até três dias automáticas, mudança nos atestados de carta de condução, renovação automática do receituário nas farmácias, entre outros) leva a que a resposta seja expectavelmente adequada.
É urgente reformar o funcionamento do sistema das urgências e implementar estas medidas que garantem acesso e tratamento atempado e adequado a todos os utentes.
Os portugueses já demonstraram que aderem a sistemas que lhes facilitam o acesso, por isso, certamente irão aderir a este novo funcionamento.
Mais saúde e melhor acesso para todos os portugueses. É a garantia!
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