1944-2023. Pintora lisboeta que cresceu num Portugal “cinzento” e que foi capaz de encontrar o seu caminho, primeiro mais figurativo e depois abstrato, com alegria e cor
Alguns artistas plásticos gostam de falar; outros, não. Joan Miró era discreto, sossegado. Tinha uma vida familiar, recatada; o oposto da hiperatividade que vemos na sua pintura: riscos como microrganismos que parecem estar em movimento. Podemos dizer tudo de Salvador Dalí, menos de o acusar de incoerência. Era histriónico, obsessivo e festivo na sua vida e na sua obra. E falava muito, teorizava muito; elogiava e condenava. O mais surrealista dos pintores não podia fazer por menos. Picasso também não se escondia. Mulherengo, sociável, vaidoso, autoritário, obviamente que também gostava de falar e falava bem sobre o que fazia. O próprio Botero, recentemente desaparecido, adorava falar e explicar, com uma aparente indiferença às críticas e uma conta bancária saudável.
Teresa Magalhães falava muito bem, tanto sobre o que fazia como sobre a sua vida. Ter sido professora ao longo de toda a sua atividade artística ter-lhe-á dado um traquejo comunicativo que muitos artistas plásticos não têm. A propósito da exposição “Pós-Pop”. Fora do lugar-comum na Fundação Gulbenkian, em 2018 Teresa Magalhães descreve num vídeo breve o que era Portugal na década de 60: “Era um país morto.” A vida que lhe era permitida a si própria e a outros da sua geração era uma vida “inventada”, criada num ambiente triste. Tudo era cinzento e as mulheres vestiam-se de cinzento para se confundirem com a paisagem e assim se tornarem aquilo que eram: invisíveis.
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