Orçamento: um país em xeque e a cheques
Como é fácil de ver, tanto pela forma como pelo conteúdo, neste Orçamento não se pretende reformar nenhuma área do Estado. Há apenas compra de eleitorado ou o acalmar de pulsões públicas
Deputada da Iniciativa Liberal
Como é fácil de ver, tanto pela forma como pelo conteúdo, neste Orçamento não se pretende reformar nenhuma área do Estado. Há apenas compra de eleitorado ou o acalmar de pulsões públicas
Precisamos falar de economia e empresas para atrair capital e investimento. E não estamos. O país precisa de atrair capital, precisamos de investimento e ter perspectivas de crescimento. Dizem-nos que este é um orçamento desinteressante e que o Governo "capturou" o conceito das contas certas, ignorando-se, naquilo que é uma boa imagem externa que, afinal, foi conseguido por inflação e impostos, e não por reestruturação. A discussão ficou concentrada num único ponto, no aumento do IUC para carros anteriores a 2007. No entanto, a atenção deveria central devia estar na (falta de) estratégia subjacente, numa (inexistente) visão de país e no que devia ser uma abordagem sustentável para o crescimento económico.
A Economia
No relatório do Orçamento do Estado, o Governo, como habitualmente, apresenta os seus números e propostas para o ano. Mostra também o seu diagnóstico como justificação para as suas opções tomadas. E o diagnóstico é terrível:
Os Cheques
As principais medidas políticas são apresentadas em pequenas fichas em pouco mais de uma dúzia de páginas. Tudo traduz um Governo de pequena ambição. Vale a pena desconstruir, pelo menos, algumas narrativas, colocando o valor do cheque médio implícito a cada uma das medidas (os números base são evidentemente dados pelo Governo):
Como é fácil de ver, tanto pela forma como pelo conteúdo, que não se pretende reformar nenhuma área do Estado. Há apenas compra de eleitorado ou o acalmar de pulsões públicas, com medidas avulsas e com pouco sentido:
São exemplos, mais há.
E as reformas?
Mas, tão importante quanto desconstruir estas medidas, é perguntar onde está o ímpeto reformista? Onde está a reforma do sistema de saúde, para além de um reforço de uma Comissão Executiva e medidas que não travam um colapso? Onde está a autonomia das escolas e o reforço do programa de recuperação de aprendizagens? Onde está uma política de primeira infância? E a reforma da justiça? O Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social terá um reforço de 3 mil milhões de euros, mas a política de investimento continua com a mesma exposição, mesmo contra as recomendações até do Tribunal de Contas.
E absolutamente central: onde estão as reformas que permitem o crescimento económico? Onde estão as empresas neste Orçamento? Onde estão os investimentos transformacionais? O reforço do plano de regadio é incipiente. Não há uma redução do esforço de licenciamento ou de acabar com as taxas e tarifas para a indústria e serviços. Não há alteração na fiscalidade pouco competitiva das empresas, que é elevada, complexa e pouco previsível. Não se reduzem os custos de contexto e política promotora de produtividade. Como cereja no topo do bolo, termina-se com o pouco de competitividade que havia - o regime de residentes não habituais.
Peças soltas que não fazem um puzzle. É preciso reformar e governar. Vamos em mais um orçamento perdido, num país em xeque e a cheques.
* Carla Castro é deputada da Iniciativa Liberal
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