Katherine Mansfield é uma escritora que parece sempre a meio caminho entre duas idades
Numa conversa recente sobre Katherine Mansfield, dois colaboradores regulares da “London Review of Books” lembravam a engenhosa fórmula que Virginia Woolf usou para descrever o romance oitocentista: “over-furnished rooms”, divisões demasiado mobiladas. Isso fez-me regressar aos tempos em que comecei a ler ficção, e ao meu gosto, já nessa altura, por divisões pouco mobiladas.
Os críticos literários Seamus Perry e Mark Ford resumem assim as características do conto modernista anglófono, de que a neozelandesa Mansfield é o expoente máximo: histórias concisas, elípticas, com pouco ou nenhum enredo, pouco ou nenhum evento. O que sobra, então, em Woolf, Lawrence, Joyce ou Mansfield? Sobra tudo aquilo que não é evento nem enredo: vinhetas, observações, impressões, devaneios, mudanças de ideias, súbitas alegrias ou desesperanças, impaciências, arrependimentos, ilusões. Uma das biógrafas de Katherine Mansfield, Claire Tomalin, explica que a própria escritora deixou a muita gente a imagem de uma pessoa esquiva e contraditória, “num momento vulnerável e magoada, noutro autoritária e exigente”.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pedromexia@gmail.com