Opinião

Presidente da Câmara com pensamento pequenino é velhaco e dançarino

Presidente da Câmara com pensamento pequenino é velhaco e dançarino

Inês Drummond

Vereadora do PS na Câmara Municipal de Lisboa

Em democracia, em minoria não há alternativa, dialoga-se, negoceia-se, geram-se consensos, constroem-se maiores denominadores comuns. Não. Não serve ao Napoleão de Lisboa

De Carlos Moedas nunca se viu dançar a conga nem a bachata, mas as piruetas que tem dado são bem reveladoras de uma flexibilidade invejável, e uma visita ao “endireita” recomenda-se.

É na Habitação que Moedas tem revelado melhor o esplendor dos seus dotes, na dissimulação e na dança, com uma bazófia com o ponteiro sempre a bater no redline, e uma máscara de tristeza que faz inveja ao teatro grego, de fazer chorar as pedras da calçada, para se vitimizar sempre que tem um contratempo.

Carlos Moedas quer implementar em Lisboa um projeto de controlo do perfil sociológico do eleitorado em que, por um lado é servil com aquela que considera ser a sua clientela política - o grande investidor – a prioridade do seu mandato, nas palavras do próprio -, o unicórnio, o swag e o bling-bling, porque estas coisas ditas em estrangeiro dão logo um ar moderninho, e, por outro, desiste da classe média, convidando-a a sair de Lisboa e levantando obstáculos à atração e fixação de “novos” lisboetas.

Audácia não é arrogar-se de que lhe é devido viabilizar todos os desmandos. Em democracia, em minoria não há alternativa, dialoga-se, negoceia-se, geram-se consensos, constroem-se maiores denominadores comuns. Não. Não serve ao Napoleão de Lisboa. Faz questão de ir somando Waterloos, onde chega impante e de onde regressa com o rabo entre as pernas, porque, assim como assim, a vitimização faz caminho, e o diálogo dá trabalho e convida a cedências.

Audácia não é prosápia. Não é debitar números e milhões. Não é cortar fitas de obra alheia. Moedas tem estado a arrastar os pés, em particular na habitação, e agora que olha para a Carta Municipal de Habitação (CMH), constata que aquilo que está em adiantado estado de execução corresponde ao que herdou em obra ou concurso, que o que tem previsto para o longo prazo corresponde ao que herdou em estudo ou projeto, e, constata, também, o seu deserto de ideias desde que assumiu a presidência da câmara. Uma incapacidade na execução e em acrescentar obra nova ao pipeline herdado, – quando Lisboa tem, só de PRR, mais de 500M que é preciso executar.

Audácia não é propor uma CMH que coloca toda a construção pública na renda acessível para baixos rendimentos. Audácia não é dizer que a carência habitacional em Lisboa corresponde ao número de pessoas que procuraram resposta nos programas municipais de habitação e não a obtiveram. Então e os outros? Audácia não é propor alterar as regras da renda acessível de modo a só permitir a candidatura de residentes. Audácia não é descontinuar projetos de renda acessível ou atirá-los para as calendas. Audácia não é dar descaminho aos projetos de renda acessível, convertendo-os noutra coisa, ou reduzindo o número de fogos a construir – como no projeto de renda acessível do Alto do Restelo. Que pequenino pensa. Mas que bem dança.

Carlos Moedas considera “inaceitável que […] esta Carta não seja aprovada”, mas inaceitável é desistir da classe média. Renda acessível é para a classe média! E é na classe média que se deve situar a ambição da resposta das políticas municipais a desenvolver, naturalmente, sem deixar de cuidar dos mais vulneráveis.

Há temas, como o Alojamento Local e o condicionamento de operações urbanísticas de privados, em que, ainda, não vai suficientemente longe, mas a CMH agora em discussão é melhor que a primitivamente apresentada:

  • Abandona o princípio de que toda a construção pública é exclusiva para baixos rendimentos;
  • Aumenta o número de fogos a disponibilizar às classes médias;
  • Assume compromissos de calendário para as próximas etapas na renda acessível do Restelo, de Benfica, da Ajuda, do Parque das Nações e Olaias;
  • Desiste da proposta de isenção de IMT para jovens, para implementar o apoio ao arrendamento jovem, de universo e equidade maiores;
  • Afirma a função social da habitação como o princípio primeiro de toda a política municipal de habitação;
  • Olha às especificidades dos jovens e dos trabalhadores deslocados.

Tudo isto Lisboa ganha, porque se disse a Moedas que não. O “não” dos Vereadores da oposição é um “não” que constrói, ao contrário do que exibe a grega máscara de Moedas.

Porém, tal não significa, por si, que a visão que Carlos Moedas tem para Lisboa se tenha alterado, ou se será uma mera pirueta que o dissimula, e, também, é por isso, que a função fiscalizadora dos Vereadores sem pelouro é tão importante, para garantir que a classe média regressa ao centro das políticas, e que ninguém fica para trás.

P.S. 1 Também preocupante é a decapitação, a meio do mandato, das chefias na SRU e nas Obras, como consequência do imobilismo da sua liderança. Bazófia máxima. Execução mínima.

P.S. 2 Depois de Moedas ter reivindicado a paternidade da obra do túnel de drenagem, que herdou adjudicada e com o contrato assinado, prometeu que este seria o legado do seu mandato, agora vem abrir caminho para que seja o legado de outros. Bazófia máxima. Execução mínima.

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